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RELÓGIOS PORTÁTEIS

PRIMÓRDIOS

É possível que você estranhe o titulo “Relógios Portáteis”, quando o assunto tratado se refere principalmente aos primeiros relógios de uso pessoal, que equivalia aos conhecidos relógios de bolso.
Preferi-se, porém, esse título, uma vez que naquela época, em que esses relógios foram inventados, os seus possuidores usavam-nos pendurados ao pescoço por meio de uma corrente. Na realidade, tratava-se de relógios de dimensões avantajadas que não se prestariam a serem carregados num bolso normal.
Enquanto alguns relojoeiros se dedicavam à construção de relógios monumentais para as torres das catedrais e dos palácios da época, outros se inclinavam para a confecção de relógios de pequeno porte, havendo durante o século XV um número bastante grande de relógios para salas que, embora de construção rudimentar, já animavam com suas sonoras batidas, assinalando o transcorrer das horas, os vetustos salões dos conventos e dos nobres palácios.
No entanto, até essa época, malgrado o esforço dos artesãos que se dedicavam a produzir relógios mecânicos que permitissem aos seus possuidores transportá-los consigo mesmo, facultando-lhes assim se inteirarem das horas a qualquer momento, seja lá onde estivessem.
Os antigos relógios, em suas varias dimensões, quer gigantescos, para grandes edifícios, quer menores, para uso dentro das casas, já estavam providos do foliot, dispositivo regulador, este, que poderia ser construído em dimensões bastante reduzidas e, portanto, compatíveis com relógios de pequeno formato, para uso portátil. Porém, algo de muito importante faltava para permitir tão almejado desiderato: era um elemento motor que não dependesse da força da gravidade.
Como sabemos, todos os relógios mecânicos, quer se tratasse dos grandiosos relógios de torre ou dos relógios de parede, possuíam, como elemento que fornecia a força motriz, um peso atuando pela ação da gravidade.
É evidente que essa fonte motora não podia se aplicar a relógios de dimensões reduzidas para uso portátil. Fazia-se mister encontrar algo que substituísse a força de um peso, que ocupasse pouco espaço e que, no entanto, atuasse de forma contínua, a fim de que as engrenagens de um relógio pudessem girar, sem interrupção na sua marcha, durante um período de tempo mais ou menos longo.
A descoberta da mola real, fina de aço enrolada em espiral, exatamente como ainda hoje conhecemos em nossos relógios de corda, foi o ponto de partida para a produção de relógios portáteis, sejam os de mesa ou os de bolso.
Há historiadores que calculam que a invenção da mola real deu-se por volta de 1459, outros opinam pelo ano de 1477 e, finalmente, uma maioria acredita terem surgido os relógios de corda pela primeira vez no ano de 1500.
Como a confirmar a primeira hipótese, há uma anedota mencionada em L’Encyclopedie que diz: “Um gentil homem, arruinado pelo jogo, entrou na alcova de Luis XI e furtou-lhe o relógio, o qual ao ser apertado na mão soou. O rei, generosamente, não só lhe perdoou o gesto mas ainda presenteou-o com o relógio...” Luis XI reinou na França de 1461 a 1483, portanto, se esse fato for verídico, comprova a construção de relógios portáteis na segunda metade do século XV. Não obstante o fato apontado, a grande maioria dos textos históricos atribui a invenção dos relógios transportáveis a um serralheiro de Nuremberg, chamado Pedro Henlein.
Realmente, parece haver provas insofismáveis da construção de relógios portáteis por esse serralheiro, em Nuremberg, na Alemanha.
A respeito da data em que teria ocorrido esse fato existe, no entanto, alguma discrepância entre as diversas fontes consultadas e assim tem-se citações que indicam o ano 1500 como aquele em que Pedro Henlein construiu seu primeiro relógio portátil e, portanto, consideram esse ano como marco inicial na historia dos relógios desse gênero. Outras citações mencionam, como provável, o ano de 1511. examinamos também textos em que aparece o período compreendido entre os anos 1520-1525 como o mais provável do aparecimento desse primeiro relógio fabricado em Nuremberg. Encontra-se, ainda, a data de 1542 como a primeira vez que o “ovo de Nuremberg” foi fabricado.
Como se vê, existe muita controvérsia quanto ao ano exato em que Pedro Henlein teria fabricado o seu primeiro célebre relógio. Uma coisa no entanto é certa, é que os “ovos de Nuremberg” foram os precursores dos relógios modernos, tanto assim que sua forma ovóide foi usada em grande numero de relógios até princípios do século XVII, quando então deu lugar quase totalmente para a redonda, como até hoje é usada.
Pelos estudos a que nos temos dedicado e os elementos colhidos, acreditamos que o ano 1500, ou pelo menos próximo, assinale, de fato, o aparecimento do relógio de Pedro Henlein, pois historiadores dessa época mencionam esses relógios como coisa plenamente nova. Alem disso um escritor em 1511, deixou uma descrição detalhada de um relógio portátil com batida dês horas, atribuindo essa invenção a Pedro Henlein.

FERREIROS RELOJOEIROS

Os primeiros relógios portáteis tinham corada para apenas algumas horas e, quanto a sua precisão – mencionam os historiadores da época – apresentavam elevada margem de erro, que chegava à volta de 1 hora em 24 horas. Seu funcionamento era precaríssimo, marcando o tempo por um único ponteiro, o de horas.
O primeiro cabelo usado nesses primitivos relógios portáteis, consistia de uma simples cerda de porco, colocada com uma extremidade presa à platina e a outra sob o balanço, cujo aro era provido de dois pinos, os quais, com a oscilação do balanço, encontravam em seu caminho a cerda de porco, que repelia o balanço após as impulsões.
Acredita-se e evidentemente com fundamento, que a origem do nome “cabelo” dado até nossos dias à espiral do balanço, tenha como origem o fato de no inicio ter sido usado efetivamente um cabelo natura, ou seja, a cerda de porco a que foi referida.
A precariedade na construção dos primeiros relógios portáteis não é na verdade motivo para surpresa, se atentarmos para o fato de que, na época em que Pedro Henlein viveu, ou seja, em princípios do século XVI, não havia relojoeiros propriamente ditos, da maneira que hoje os conhecemos, e sim, serralheiros que se dedicavam à fabricação de armas fechaduras e outros artefatos de ferro, ressaltando-se dentro dessa classe profissional uma minoria, dotada de grande habilidade mecânica e dedicação que inclinava para a fabricação de relógios. Portanto, assim como Pedro Henlein, que era ferreiro e serralheiro, também outros desses artífices do século XVI – evidentemente os mais finos, dentro de sua classe – eram os fabricantes de relógios da época.
Os relógios eram executados em ferro maleável, cujas rudimentares peças, trabalhadas na forja e na bigorna, adquiriam as formas determinadas, sofrendo, algumas delas, acabamento posterior.
O ferro, nessa época, era produzido exclusivamente com carvão vegetal, uma vez que não havia ainda o carvão coque; isto trazia a grande vantagem de tornar o ferro totalmente limpo, sem enxofre, o que praticamente emprestava aos relógios uma eficiente proteção contra ferrugem.
A duvida que pairava entre os diversos autores, sobre a existência ou não dos relógios fabricados por Pedro Henlein, parece agora afastada, pois foi encontrado, em uma antiga chaminé, ao lado da lareira de uma vetusta casa, perto de Besançon – importante centro relojoeiro francês – um velho relógio, coberto de cinza e enferrujado, porem intacto. Nesse velho relógio, uma vez limpo, apareceram vestígios de um monograma, como era usual na Idade Media e Renascença, em que os artistas criadores marcavam suas obras-primas, para permitir identificação. Uma letra “P” de desenho gótico se apresentava bem legível e em perfeito estado de conservação, porém, uma outra letra demasiadamente elegível estava totalmente irreconhecível.
Esse precioso relógio foi então enviado ao museu de Augsburgo e, após ser submetido a rigorosa inspeção pelos peritos, estes confirmaram por unanimidade que se tratava incontestavelmente de obra de Pedro Henlein.
O professor René Pelletier, da Academia Francesa, que examinou essa verdadeira relíquia, escreveu importante artigo sobre o valioso achado, que certamente eliminará qualquer suspeita porventura existente sobre a efetiva contribuição de Pedro Henlein, à evolução da relojoaria.

PRESTÍGIO PESSOAL

Após a aparição dos primeiros relógios portáteis, que se constituíram numa verdadeira revolução técnica no domínio da medição do tempo e da mecânica de alta precisão, começaram os nobres e potentados da época a desejar possuir tal maravilha. Como decorrência, incrementou-se a produção desses marcadores de tempo, que gozavam de conceitos elevadíssimo.
Os relógios portáteis passaram a ser olhados como objeto de alto luxo, que conferiam aos seus poucos e felizes possuidores um grande prestigio.
Na execução das caixas desses relógios – nos primórdios de prata ou latão – começaram a ser aplicados metais preciosos e pedrarias, de tal forma que, não obstante o seu mecanismo de fabricação um tanto imperfeita, foram produzidas peças belíssimas, verdadeiras jóias de bom gosto e luxo.
O desenvolvimento das artes e o esplendor das cortes européias com sua resplandecente sociedade influencia pela crescente riqueza e em decorrência de uma vida de luxos e requintes, estimulou os artistas e os relojoeiros da época, que contaminados por essa euforia se empenharam na ânsia de corresponder ao que se lhes solicitava, nos legando verdadeiras obras-primas que, embora raras, ainda hoje nos causam admiração.
Como não poderia deixar de ser, o relógio, como as jóias sofreram as influencias dos gostos e dos acontecimentos das épocas; suas caixas tiveram as mais variadas formas: ovais, poligonais, redondas, quadradas, cilíndricas, em formato de cruz, de caveira, de concha, de estrela, etc.
O metal dessas caixas era, em geral, muito trabalhado, com arabescos finamente cinzelados e aplicação de esmalte ou pedras preciosas e semi-preciosas. Muitas são as peças cujo esmalte representa miniaturas inspiradas nas obras-primas de grandes mestres pintores.
Os relógios em forma de cruz possuíam, geralmente, o mostrador ornamentado com cenas religiosas, algumas evocando a vida de Jesus Cristo. Eram estes relógios denominados “abadessa” e, como era usual com os demais, destinavam-se a serem levados ao peito, pendurados em uma corrente.
Mas não era apenas o metal, as pedras preciosas e os esmaltes, os elementos usados nas caixas dos primitivos e luxuosos relógios portáteis, um outro material introduzido na relojoaria por volta de 1620 marcou época pela grande aplicação que teve: trata-se do cristal de rocha.
Nos museus da Europa e também nos americanos encontram-se exemplares belíssimos, cujas caixas de cristal trabalhadas com grande esmero dizem bem do valor dos artistas lapidadores dessas pretéritas épocas.
Ao tempo da Rainha Izabel, na Inglaterra, era considerado como um ato dos mais elegantes levar-se consigo um relógio e, quem desejasse exibir-se, o melhor que poderia fazer era tomar o relógio e consultar a hora diante de outras pessoas. Shakespeare faz um de seus personagens – Malvolio – consultar com todo o refinamento e elegância o relógio que trazia consigo. Alias, nos escritos de Shakespeare pode-se deduzir que esses relógios já tinham seu uso difundido antes mesmo de 1600.
Nas diversas citações, registradas pelos historiadores ou cronistas da época, encontramos referencias diversas à presença dos relógios nas cortes européias e à grande consideração em que eram tidos. Carlos V, Imperador da Alemanha e Rei da Espanha (1500-1558), possuía um pequeno relógio que dava as horas; Henrique VII trazia sempre consigo, sobre o peito, um relógio pendurado a uma cadeia de ouro; Felipe Wesles possuía um exemplar riquíssimo, todo adornado com diamantes, rubis e pérolas; o duque Frederico de Liegnitz, desejando obsequiar um amigo de Sajonia, o presenteou, em 1593, com um relógio portátil que havia custado a soma de 127 escudos, importância elevada para a época.
Para que possamos ter uma idéia do quanto o relógio representou de prestigio e elegância durante séculos, é o bastante atermo-nos às pinturas das diversas épocas, onde encontraremos retratos de personalidades ilustres, executadas por mestres, nas quais o relógio aparece como elemento de adorno, conferido aos seus possuidores uma auréola de importância e prestígio.

A ESPIRAL

Os primitivos relógios portáteis, possuíam mecanismos rudimentares e de concepção bastante elementar, marcando as horas com um só ponteiro – o de horas – com erros de precisão dos mais elevados.
Eram, em sua maioria, objetos considerados no mesmo plano das jóias, do que propriamente mecanismos nos quais se pudesse confiar; tanto assim que muitos desses primeiros relógios portáteis tinham embutidos pequenos relógios de Sol, com possibilidade de serem acertados pelos seus usuários.
A aparição da espiral, que passou a ser aplicada em todos os relógios portáteis, como que delimitou os períodos da relojoaria portátil primitiva e da relojoaria de maior precisão, uma vez que os relógios com esse novo elemento passaram a apresentar, ao invés da diferença de uma e até mesmo mais horas, diariamente, apenas alguns minutos.
É portanto, a invenção da espiral – cabelo do relógio – um marco dos mais expressivos e importantes da evolução da relojoaria.
A invenção da espiral é por muitos atribuída ao matemático, astrônomo e sábio holandês Christian Huygens, nascido em 1629 e falecido em 1695.
É natural que a evolução para a descoberta da espiral tenha partido da aplicação da cerda de porco, que, era fixada por sua extremidade mais grossa à platina do mecanismo, de forma que sua ponta afinada se situasse por baixo do balanço, o qual, estando provido de 2 pinos, oscilava levemente pela ação dos pinos contra a cerda do porco, que repelia o balanço após cada impulsão.
Aproveitando a mesma idéia da cerda de porco, o abade Hautefeuille, em 1674, descobre que uma lamina elástica presa pela ponta e ondulada, faz dar ao volante oscilações sensivelmente iguais.
O sábio holandês Huygens aperfeiçoa a invenção de Hautefeuille e cria a espiral. Foi sob a direção desse ilustre astrônomo de Haia que Thuret, hábil relojoeiro farnces, construiu em 1675 os primeiros relógios munidos de uma espiral reguladora, semelhante aos cabelos atuais.
Os ingleses inclinam-se a dar a paternidade desse invento a Robert Hooke, que nasceu em 1635. supõe eles, de uma forma geral, que foi Hooke quem aplicou, pela primeira vez, a espiral ou cabelo do balanço, por volta do ano 1661, muito embora o houvesse inventado 3 anos antes. Morreu esse grande relojoeiro no ano 1703.
Em um relógio, oferecido ao soberano inglês Carlos II, aparece esta inscrição: “Rob. Hooke invt. 1658 T. Tompion fecit. 1675”. Esse relógio foi construído por Thomas Tompion (1638-1713), considerado “o pai da relojoaria inglesa” e possuía 2 volantes e suas espirais, tal como fora concebido por Hooke. Dizem escritos relacionados ao fato que: “este relógio foi aprovado, com admiração, pelo Rei, e adquiriu uma reputação que se estendeu pelo reino e pelo estrangeiro. A fama deste relógio chegou especialmente à França, tendo o Delfin encomendado relógios ao eminente artista, Sr. Tompion, que os construiu para ele”.

ESTABILIDADE E ISOCRONISMO

A descoberta da espiral, aplicada ao balanço dos relógios, é atribuída por grande maioria de historiadores ao sábio holandês Christian Huygens e, pelos ingleses, a Robert Hooke.
Pelo exame e cuidadosa pesquisa, que fizemos em textos históricos relacionados ao fato, acreditamos que Huygens tenha sido, efetivamente, o descobridor desse valioso elemento.
O volante ou balanço já era aplicado nos pequenos relógios portáteis, porem, a descoberta da espiral, ou cabelo, como é popularmente conhecido, trouxe ao balanço notáveis características de estabilidade em suas oscilações, conseguindo-se o isocronismo, fator tão importante e necessário na precisão de funcionamento do relógio.
Aparentemente tão simples espiral, que muitos poderá parecer de expressão relativa em face de um complexo mecanismo de relógio foi, na realidade, o elemento que faltava para que os relógios portáteis passassem da categoria de adornos animados para a de verdadeiros marcadores de tempo.
Sem duvida, pode-se afirmar que essa descoberta abriu para a relojoaria portátil novos e mesmo inimagináveis horizontes para a época, permitindo um funcionamento efetivamente seguro e conferido a essa classe de relógios características de precisão até então jamais pensadas.
Os escapes de palhetas, com volante espiral marcaram gloriosa época na relojoaria e o progresso alcançado foi realmente extraordinário. Isso deveu-se, sem duvida, a dois fatores: à espiral e ao escapamento de palhetas. A primeira, por emprestar aos relógios portáteis novas características de funcionamento e precisão e o segundo, por sua facilidade de execução.
Na realidade, o escapamento a palhetas, apesar de ser incompatível com uma exatidão elevada, era extremamente simples e por isso foi durante séculos, mesmo quando outros sistemas já tinham surgido, como o escape a gatilho e mesmo o de âncora.
Podemos atribuir à simplicidade de construção do escape de palhetas o porque da evolução da relojoaria portátil dessas épocas, nas quais a mecânica se encontrava ainda sem grande desenvolvimento, dependendo os mecanismo fabricados mais do valor da mão-de-obra do artesão do que propriamente dos maquinários.
Grandes relojoeiros, como Ferdinand Berthoud, em casos determinados. Usaram o escape a palhetas em relógios que construíram até 1800 e alguns fabricantes de tipos comum de relógios portáteis usaram esse sistema até 1850.

O CARACOL – “FUSÉE”

A corda real, com suas características de elemento de força para o acionamento dos mecanismos de relógios portáteis, foi, o primeiro grande passo que possibilitou ao homem contar com um órgão motor independendo totalmente da força da gravidade, permitindo ainda dimensionamentos que tornaram possível a produção de relógios dos reduzidos tamanhos.
No entanto, os escapamentos a palhetas, face suas características de escape, provocavam as oscilações do balanço com grande variação entre os pontos de carga máximo e mínimo da mola real. Isto em razão desse órgão motor não acionar com uma força igual e constante, o que determinava o adiantamento do relógio, quando com toda a corda, e seu atraso, conforme ia se descarregando.
A mola real, portanto, por si só não poderia dar ao escapamento a palhetas um funcionamento regular, tão importante para que os relógios pudessem preencher sua finalidade. Algo necessitava ser criado que corrigisse essa deficiência da mola motora, permitindo-lhe, apesar de sua força variável, atuar no trem de engrenagens com uma pressão uniforme, pouco importando a carga do caracol, que por muitos é considerado “como a mais bela descoberta do espírito humano”.
Depois da espiral e do balanço é, sem duvida, este engenhoso dispositivo a que chamamos caracol, o elemento mais importante do relógio com escape a palhetas.
O caracol é, na realidade, um tambor em forma cônica, com uma ranhura espiralada, na qual se envolve uma delicada corrente articulada, muito semelhante às correntes de bicicleta.
Uma das extremidades dessa corrente é presa ao tambor da corda e a outra ao caracol, de tal forma que quando o tambor se acha com a corda praticamente descarregada a corrente esta toda enrolada nele e puxando ainda a parte de maior diâmetro.
Para se dar corda nesses antigos relógios aciona-se o caracol através do seu eixo, por meio de uma pequena chave, de forma a enrolar-se nas espiras do caracol a corrente que, ao se desenrolar do tambor de corda, vai puxando-o e tencionando a corda que está em seu interior. Portanto, conforme a corrente vai envolvendo o caracol, a mola real enrola-se no eixo tambor, que é fixo em relação ao mecanismo.
Como resultado desta engenhosa disposição, quando a mola se acha em sua força máxima, pelo enrolamento quase total, ela puxa o caracol em sua parte de menor diâmetro, atuando na engrenagem como uma alavanca curta e, portanto de menor força. Conforme o mecanismo vai funcionando e a energia da corda vai diminuindo, o diâmetro do caracol – em virtude de seu feitio espiralado – vai aumentando e conseqüentemente aumentando a alavanca, que amplia assim a força recebida, contrabalançando desta forma, a perda de tensão da mola.
O caracol, não obstante seu elevado valor como órgão compensador do sistema motor dos relógios, após longo tempo de aplicação em, praticamente, todos os relógios portáteis, caiu em desuso. Isto deu-se por diversas razoes, destacando-se a invenção de novos tipos de escape, principalmente o de ancora e o cilindro, a criação de novos lubrificantes e a fabricação de molas com resistência mecânica mais constante em decorrência de novas ligas de aço, laminação mais acurada e processos de tempera uniforme e todo o comprimento da fita de aço, de tal forma que, quando enroladas, essas molas transmitem, entre os pontos máximo-mínimo de carga, uma força com variação perfeitamente tolerável e compatível com os mecanismos dos relógios modernos.

EVOLUÇÃO DO ESCAPAMENTO

Por volta do ano 1500 foram aplicados nos relógios portáteis, e usados por cerca de 300 anos, escapamentos a balanço com o sistema verge, sendo o retorno do balanço, após cada impulso, proporcionado por uma simples cerda de porco. Muito depois, como aperfeiçoamento deste processo, surgiu o escapamento Hog de cerda, permitindo uma regulagem em pouco melhor mas, também, precário como o primitivo verge à cerca.
O ponto de partida, que influiu decisivamente na evolução dos escapamentos a balanço, deve-se a Christian Huygens que em 1675, elimina a cerda de porco, colocando em seu lugar uma espiral de aço, cabelo. Com a aplicação da espiral, Huygens teve em vista aprimorar o funcionamento do escape verge, porém muito mais transcendental que essa melhoria foi o fato de sua descoberta abrir novas e amplas perspectivas técnicas, permitindo a criação de outros sistemas de escapes, muito mais confiáveis e precisos.
Em 1695 é patenteado o escapamento cilíndrico, por William H. Hougton (1638-1713), associado a Thomas Tompion (1639-1713) e Edward Barlow (1636-1716), no entanto a invenção desse escapamento, que foi bastante usado até princípios do século passado, é atribuída a George Graham.
Muitos relojoeiros proeminentes dedicaram grande parcela de seu tempo ao estudo de novos escapes a balanço para relógios de bolso. Assim surge por volta de 1748 o escapamento livre, que foi apresentado à Academia de Ciências de Paris por Pierre Lê Roy (1717-1785), considerado um maiores relojoeiros da França, a quem também é atribuído o escape duplex, surgido em 1750.
Jean André Lepaute (1720-1789), francês, inventa o escapamento à vírgula, conforme publicação no “Traité d’Horlogerie”, Paris 1755.
Um importante escapamento para cronômetros surgiu na segunda metade do século XVIII, inventado por Le Roy; posteriormente, por volta de 1781, foi aperfeiçoado por Thomas Earnshaw (1749 1829), sendo aplicado até quase nossos dias em cronômetros de marinha.
Criado por Peter Litherland, de Liverpool, surge em 1752 o escape à cremalheira.
Em 1801outro importante escapamento foi inventado por um famoso relojoeiro, Abraham Louis Breguet (1747-1823), estabelecido em Paris e inventor do relógio automático. Esse escape, denominado turbilhão, foi usado em cronômetros, por suas excepcionais características de precisão.
No entanto, o escapamento à ancora, para relógios de bolso que, após passar por vários aperfeiçoamentos, viria a se tornar praticamente o único usado em nossos dias, nasceu em 1759. Sua invenção foi atribuída ao relojoeiro inglês Thomas Mudge (1715-1794), um dos grandes fabricantes de relógios em sua época, que foi aprendiz de Graham.
Primitivamente o escape à ancora compunha-se de 4 peças; com o passar dos tempos sofreu diversas alterações em sua forma original. Ainda no século XVIII, o fabricante de relógios Josiah Emery (1725-1797), suíço natural de Genebra e estabelecido em Londres, produziu relógios de bolso com escape à ancora a partir de 1774, apresentando várias modificações no sistema Mudge. Além dos trabalhos de Emery, muitos outros relojoeiros introduziram aperfeiçoamentos nesse tipo de escape e por volta de meados do século XIX ele se apresenta praticamente com o desenho atual, com as mesmas 3 peças usadas em nossos dias: roda de escape, ancora e platô.
O efeito das variações de temperatura sobre os escapes a balanço, a exemplo do que sucedeu com pendulo, também preocupou os fabricantes de relógios, que passaram a procurar meios de corrigir esse fenômeno. Em 1736 é posto em prova, no mar, o cronômetro de marinha n° 1 de John Harrison, primeiro relógio com escape de balanço provido de um compensador de temperatura, baseado no pêndulo à grelha. Dezenove anos depois, em 1755, surge o balanço bimetálico, inventado por Pierre Le Roy.
Outras disposições foram surgindo, tendo sempre por principio a compensação por efeito dos diferentes coeficientes de dilatação dos metais. Algumas das soluções encontradas eram bastante habilidosas, mas pouco práticas, assim o balanço bimetálico destacou-se dos demais, de tal forma, que seu uso se generalizou em relógios de qualidade, tendo sido aplicado até em relógios de pulso, já em nosso século.
Por outro lado, se houve grande interesse na criação de escapes de alta precisão, conseqüentemente de custo elevado, por outro, na segunda metade do século XIX, com o desenvolvimento industrial da relojoaria, a produção em maior escala se iniciava, exigindo relógios de bolso de fácil construção e bom funcionamento, cujo preço favorável abrisse mercados de mais amplo consumo. Dentro deste clima surgiu o relógio com movimento Roskopf, usando um escapamento baseado no tradicional modelo de âncora, porém com roda de escape, âncora e platô bastante simplificados, sendo uma de suas principais características a âncora, que no lugar das duas “levées”, também chamadas palhetas, possui 2 pinos de aço, cavilhas, diretamente cravados na âncora. O sistema Roskopf, como é conhecido este escapamento, devido à simplicidade de sua fabricação e seu baixo custo e despertadores. Atualmente ainda são fabricados milhões de relógios com esse escape. Lançado na Suíça, seu inventor George Frédéric Roskopf (1813-1889) foi um importante fabricante de relógios do século XIX.
O balanço elétrico é bem mais moderno, surgiu por volta de meados do nosso século; em suas oscilações liga e desliga um contacto elétrico de lamina metálica, o qual energiza, pela corrente elétrica de uma pilha, um eletroímã que mantém os movimentos do balanço.
Mais recentemente, com o aparecimento do transistor, o contacto de lamina foi suprimido, passando o balanço a ser acionado por um sistema eletrônico muito mais perfeito e seguro. Atualmente o uso do balanço eletrônico tem uma grande difusão, sendo empregue principalmente em relógios de parede e uma parte de despertadores de maior preço.
Com a evolução da relojoaria eletrônica, o balanço tendera a desaparecer, muito embora, por suas características técnicas, venha provavelmente a ser usado por mais tempo que o pendulo.