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HISTÓRIA DO RELÓGIO

INTRODUÇÃO


A historia do Relógio acompanha, efetivamente, a própria historia da civilização. Iniciando-se por volta de 5.000 anos passados, registra a evolução do homem em seu progresso cultural e técnico, através dos tempos até nossos dias.
Presentemente o relógio é qualquer coisa de muito vulgar, muito comum. Há milhares, milhões, bilhões de relógios em todo o mundo. É ele provavelmente o mecanismo mais difundido sobre a face da Terra. Não se pode mais passar sem esse admirável companheiro!
Imaginemo-nos transportados há apenas um ou dois séculos atrás, quando ainda a maior parte da humanidade dependia de poucos e rudimentares medidores de tempo! Certamente não nos adaptaríamos! A falta do relógio, tal como o conhecemos, seria imensa para nós, habituados, como estamos, a olhar tantas vezes por dia para esses dois ponteiros que nos hipnotizam e governam, determinando o momento de nossas ações, no seu girar constante e imperturbável, assinalando com indiferença o eterno passar do tempo!
Não há duvida, sem o relógio, aperfeiçoado como está, nunca poderíamos chegar ao estagio de civilização onde nos encontramos.
No entanto, até há poucos séculos passados, os galos chegaram a ser usados como despertadores. Isso, todavia, era natural em uma época em que a humanidade contava com raros e precários medidores de tempo.
Hoje tudo mudou e o homem, mais do que nunca, depende desses extraordinários mecanismos. De um modo geral temos, em nossos dias, facilidade de ver as horas, a qualquer momento, simplesmente olhando para o pulso, para o relógio em cima da mesa, na parede ou qualquer outro lugar que esteja; e isto porque é muito raro não haver um relógio nas nossas proximidades.
A industrialização do relógio é relativamente recente. Refiro-me à fabricação mecanizada em alta série. Ela iniciou-se há pouco mais de um século. Praticamente até princípios do século XIX os relógios eram produzidos em quantidades reduzidas, dependendo de hábeis artesãos, que utilizavam maquinas rudimentares. Na atualidade é uma das industrias mais evoluídas do Globo, sendo produzidos em todo o mundo acima de 250 milhões de unidades anualmente. Isto sem duvida porque a medição do tempo foi, é e certamente continuará a ser uma preocupação permanente. No inicio o homem dividiu o dia em duas partes – noite e dia – depois, com o transcorrer dos séculos, foi paulatinamente seccionado-o cada vez mais, à medida que o progresso assim o exigia, até chegarmos ao estagio atual em que, com toda a naturalidade, se produzem em série relógios mecânicos que registram com exatidão o quinto do segundo e relógios a quartzo ou atômicos que subdividem essa já microscópica divisão da hora em nada menos que dezenas, centenas ou milhares de partes. Para chegar-se a esse estagio um longo caminho foi percorrido.

RELÓGIOS DE SOL

MECÂNICA CELESTE-GNOMONS

A abóbada celeste, com suas constelações, seus sóis, sua nebulosas e suas miríades estrelas, polvilhando o infinito. Sempre tiveram sobre o homem uma poderosa e exrtaordinaria influencia. Pela sua observação constante é que ele certamente chegou a compreender que leis imutáveis guiavam os astros em seus exatos percursos pelo firmamento. E assim podê se basear em determinadas estrelas e constelações para se orientar em relação a um objeto a atingir, quer viajando por terra ou por mar.
Dessa observação do macrocosmo apareceram os primeiros astrônomos e por certo foram eles os primeiros homens a se preocuparem com a medição cientifica do tempo, uma vez que, da mecânica celeste com seus fenômenos repetindo-se em ciclos constantes, é que haveria de surgir o medidor de tempo, em tudo e por tudo destinado a permitir ao homem ter uma noção mais exata da fugaz passagem do tempo, nessa cadência constate que as leis do Universo determinam. A ciência de medir o tempo ligou-se, portanto, de uma forma lógica à astronomia, que atraiu, nas primeiras civilizações, os homens da ciência mais proeminentes. Desse modo astrônomos, físicos, matemáticos, sacerdotes, médicos e filósofos se preocuparam com a criação de instrumentos que pudessem assinalar o transcorrer do tempo.
Para a medição do tempo havia necessidade de estabelecer-se uma divisão e para isso era mister que o homem tomasse, como ponto de partida, um acontecimento físico o qual lhe pudesse servir como referencia, dentro do periodismo cíclico do movimento dos astros.
Primitivamente o homem se limitou a dividir o tempo apenas em dias e noites; a luz e a sombra assim lhe sugeriram a forma mais simplista, mais lógica e mais natural de estabelecer a primeira medição do tempo. O passo seguinte foi o fracionamento do período diurno em certo numero de partes, que podemos chamar de horas, e isto foi possível graças à movimentação da sombra dos corpos iluminados pelo sol.
Dentre povos que na antiguidade se interessaram pela astronomia e, conseqüentemente, pela medição do tempo, podemos citar os egípcios, chineses, babilônios, indianos, judeus e caldeus.
O primeiro relógio com que o homem pode contar, foi sem duvida o relógio de Sol. O astro rei, que tanta influencia teve sobre a humanidade, desde eras as mais primitivas, esteve sempre presente na vida do homem, quer por determinar o dia e a noite ou ainda por estabelecer as quatro estações do ano e conseqüentemente os períodos de plantio e colheita. Tal foi o seu domínio que chegou a se adorado que, como centro do nosso sistema solar, alem de ser de dar luz e calor à Terra e assim proporcionar a vida sobre a superfície, permitiu ao homem a criação do seu primeiro relógio. Primitivamente era a sombra projetada por uma arvore ou uma pedra mais alta e afilada que, movimentando-se com o passar das horas, permitia ao homem ter noção do escoar do tempo.
Depois de tudo leva a crer que o primeiro medidor de tempo, conhecido e realmente usado pelo homem, tenha sido um simples e rústico bastão fincado deliberada e conscientemente no solo. Era sem duvida o mais intuitivo e na verdade o mais lógico e funcional relógio que se poderia imaginar, para uma época tão remota e tão primitiva, situada muito provavelmente ao redor de 5.000 anos passados.
Com o passar dos séculos, a evolução de sua mente e, como homem aperfeiçoou esse primitivo e natural marcador de tempo e construiu os Gnomons. Eram, esses primeiros relógios solares constituídos por simples obeliscos de pedra, localizados em lugares amplos, onde pudessem receber sem obstáculos luz do Sol, desde a aurora ao crepúsculo e assim projetava sua sombra que, com o correr do dia, assinalava em marcos dispostos circular e calculadamente relacionados, os períodos diurnos, ou seja as horas que iam passando.
Inicialmente o homem terá dividido o dia, isto é, o espaço de tempo em que o Sol se faz presente, em quatro partes: do momento do nascer do Sol até 9 horas, das 9 às 12, das 12 às 15 e das 15 às 18 horas, sendo que este último horário coincidia, de uma forma geral, com o por do Sol. Essas quatro partes principais eram sub-divididas em frações, ou seja, em horas.
Não obstante ter-se conhecimento dos trabalhos de alguns povos em prol da criação dos medidores de tempo, a data de invenção do relógio de Sol é verdadeiramente impossível de ser fixada, assim como também o lugar exato de sua origem: são elementos que sem duvida se perderam para sempre na poeira dos séculos.
É fato incontestável que, em sua maioria, os povos antigos, ao atingir determinado estagio de evolução, se preocuparam com a maneira de medir o tempo. É interessante assinalar-se que algum desses povos, quase ba mesma ocasião, porem sem o saberem, chegaram a conclusões que muito se assemelhavam, quanto aos primeiros relógios.
Foi certamente o Gnomon o primeiro efetivo marcador de tempo que o homem construiu.
Não obstante trata-se do primitivo relógio produzido pelo homem, o Gnomon esteve em uso durante muitos séculos, sendo interessante assinalar-se que ainda existem alguns obeliscos que tiveram essa finalidade; como exemplo, podemos citar o Obelisco de Roma que está situado no Campo de Marte, nessa cidade. Foi ele erigido para comemorar a expulsão dos Tarquinienses – povo antigo da península itálica – e na antiguidade estava situado fora dos limites da cidade, em uma praça que nos dias atuais está praticamente tomada por prédios. Tinha esse obelisco, inicialmente, a função de um Gnomon e na praça ao seu redor é que se organizavam comícios para a eleição dos magistrados, como também lá é que se procedia à convocação dos soldados, assim como a outras cerimônias publicas.
É evidente que esses primeiros relógios solares apresentavam-se com uma singeleza extraordinária de forma e sua marcação do transcorrer do tempo era feita em uma divisão do dia de períodos certamente diferentes dos que correspondem à amplitude de uma hora, como hoje conhecemos.
A criação do Gnomon consubstanciou-se efetivamente como uma importante e magnífica conquista do homem. Além do grande mérito de permitir a uma comunidade ordenar suas atividades, dentro de um ritmo coerente e natural, foi, com efeito, a base, o primeiro passo, vacilante mas no rumo certo, que revelou à humanidade o caminho a seguir para a criação de novos e mais perfeitos meios de medir o tempo.

QUADRANTES SOLARES

Os séculos passavam, o homem evoluía culturalmente, de forma muito lenta porem com persistência e firmeza, sua comodidade e segurança; um dia chegou o momento no qual desejou possuir um marcador de tempo mais refinado, mais preciso, mais perfeito que o Gnomon; assim chegou ao quadrante solar.
A mais antiga citação que se conhece sobre um quadrante solar refere-se ao Egito e remonta à época do Faraó Tuttmosis III; o relógio em questão tinha o seu nome. Como este faraó reinou no Egito pelo ano 1400 a.C. pode-se supor que o quadrante solar já existisse há 34 seculos. O que não deixa de ser surpreendente!
Este mais antigo quadrante solar que se conhece, cujo original é conservado no Museu de Berlin, apresenta a forma da letra “T”, com sua haste vertical mais curta e fixada em outra barra servindo de base, a qual era subdividida em frações, correspondendo a cada fração achavam-se inscritas as horas, representadas por símbolos egípcios, os hieróglifos. Exposto ao Sol, os braços do “T” projetavam sombra na base, indicando, pelo movimento desse astro, o transcorrer das horas.
Esse quadrante solar, para funcionar, era colocado pela manha, com sua barra de escala horária, em direção oposta ao nascente, a fim de que a sombra dos braços do “T” se projetassem sobre a referida escala, permitindo a leitura da Hora Primeira, como era chamado esse período da manha.
Com o passar das horas o sol ia se elevando, a sombra encurtava-se em sua trajetória sobre a escala, assinalando as horas até o meio-dia solar, ou seja o momento em que o sol atinge o zênite, quando então o relógio era girado 180°, de forma que a barra som escala ficasse em sentido contrario ao poente, começando os braços do “T” de novo a projetar sombra sobre a escala, sombra esta que se alongava à medida que o sol caminhava, marcando assim as horas do inicio da tarde até ao crepúsculo.
A história também registra a presença de relógio solar construído pelos chineses que antes dessa data o relógio de Sol já tivesse sido descoberto na China, pois nesse país o estudo da astronomia era praticado cerca de 2500 antes de Cristo.
No reinado do imperador Iaô, 2300 anos a.C., havia astrônomos profissionais que já prediziam os eclipses do Sol.
No ano 950 antes de nossa era, Homero, o grande épico da Grécia, em suas obras mencionou os períodos do dia e do ano solar.
Na historia da Judéia aparece um importante trecho, que também muito contribui para se localizar no tempo o uso dos relógios solares. Diz essa citação que o rei Acház, desse país, mostra a seus súditos um relógio do Sol, no ano 600 antes da era cristã, ou seja, cerca de 150 anos após a fundação de Roma. A referencia antiga mais completa que se encontrou sobre os relógios solares relaciona-se, no entanto, a um relógio de Sol construído na Babilônia, por Beroso, isto também 600 anos a.C.; tinha esse instrumento chamado “Pedra Horária”, o aspecto de uma letra “T” em pé, possuindo as mesmas características do Relogiio Tuttmosis III.
Já nessa época era o período do dia dividido em 12 partes diurno de nossos dias, porem a escala desse relógio apresentava apenas seis divisões, isto porque fora ele previsto para assinalar as horas do amanhecer ao meio-dia e nesse ponto era invertida a sua posição, para assinalar as horas do meio dia ao anoitecer.
Era o relógio solar de Beroso realmente um instrumento magnífico para a época; tal era o seu valor que da Babilônia foi levado para a Grécia, berço de cultura do mundo. Nesse país recebeu diversos aperfeiçoamentos, tendo contribuído para isso Tales de Mileto, Eudóxio e Anacimandro. Na opinião de Plínio, deve-se principalmente a Anaximandro, de Mileto, a introdução de notável melhoria nos relógios de Sol, quando inventa, no ano 580 a.C., os quadrantes, ou seja, construção dos quadrantes solares, vindo portanto a Lacedemônia ou Esparta, como também é conhecida, a se beneficiar desse importante invento.
Anaximandro, cuja contribuição ao desenvolvimento da arte de medir o tempo foi tão valiosa, viveu do ano 610 ao ano 547 a.C. e foi um notável filosofo grego, tendo-se consagrado à Filosofia da Natureza, que se dedicava ao estudo Universo.
Referencia curiosa à medição do tempo é feita pelo mais célebre dos comediógrafos gregos. Aristófanes, em sua comedia “As Rãs”. Nessa obra escrita provavelmente por volta do ano 400 a.C., uma vez que o autor viveu aproximadamente do ano 488 a.C. a 390 a.C., uma ateniense, chamada Praxágoras, diz a seu marido, de nome Blefiros: “Quando a sombra medir dez passos de comprimento, unge-te com óleos perfumados e vem cear”.
Vê-se por esse trecho que na Grécia antiga o povo de Atenas encontra uma forma bastante pratica e simplificada de calcular o tempo; podemos deduzir, baseados nas palavras escritas por Aristofanfes, que em alguma praça, próximo à casa de Blefiros e Praxágoras, haveria um Gnomon ou, quem sabe mesmo, um monumento alto e esguio. Nos dias ensolarados esse obelisco projetava sua sombra no solo e para tomar conhecimento em que momento do dia uma pessoa se encontrava, limitava-se ela a medir o comprimento da sombra, com os próprios passos, o que é perfeitamente admissível. Como é sabido, o Sol ao nascer faria o obelisco projetar quando o Sol se encontrar em seu ponto mais alto, passando dessa hora em diante a alongar-se novamente a sombra, porém em sentido contrario ao da manha, cada vez mais até ao entardecer.
Não há duvida, para uma época tão remota era uma forma engenhosa ao alcance de qualquer pessoa, por mais simples que fosse, esse processo de medição do tempo. O Império Romano estendia-se pelo mundo e, portanto Roma não poderia deixar de tomar conhecimento desse extraordinário medidor de tempo que era o quadrante solar, assim pelo ano 260 a.C., provavelmente durante o reinado de Valeriano, esse país adota-o e difunde o seu uso, estendendo-o aos seus domínios.
O astrônomo francês François Jesn Dominique Arago, em sua obra “Astronomia Popular”, cita uma passagem de Plínio, que supõe, sem no entanto afirmar decisivamente, que o primeiro relógio de Sol erigido em Roma, deveu-se à iniciativa de Lúcio Papirio Cursor, já no ano 306 antes de Cristo.
Com a disseminação do uso do relógio de Sol este foi sofrendo, aqui e acolá, neste ou naquele país, alterações estruturais, inclusive de ordem artística, e diversos tipos foram sendo contruidos.
Como exemplo dos diversos modelos usados na antiguidade temos o relógio de nicho esférico, alias um tipo interessante e curioso, que era constituído de um pilar que possuía em sua parte superior, em um nicho arredondado, a escala para a leitura de horas, que era formada por uma série de traços em arco partindo do ponto superior. Era um relógio destinado a ser colocado em praças publicas, sendo também usado como marco nas estradas.
Dentre os mais celebres quadrantes solares do mundo encontra-se a Catedral de Chartres, Catedral de Florença, o da grande sala do Observatório de Paris, o da Igreja de São Petrônio, em Bolonha, e também o Grande Meridiano que ainda existe em S. Sulpício, de Paris, e que foi colocado em 1727, pelo relojoeiro Sully, e cuja haste tem 30 metros de altura.
Um relógio realmente muito curioso, e que demonstra de maneira marcante o espírito engenhoso do homem, é o célebre relógio do Sol do “Petit Palais”, que era constituído de um quadrante solar, uma lente e... um canhão. Uma vez o relógio, devidamente regulado, os raios do Sol, ao meio dia ao incidirem sobre a lente eram por estas concentrados sobre a mecha do canhão que se inflamava, fazendo-o detonar, assinalando assim, de uma forma automática essa importante hora do dia.
Diz-se que esse relógio foi construído especialmente para o último rei de Hanovre, Jorge V, que passou seus derradeiros dias em Paris. Como era cego, para ele foi ideado esse interessantíssimo relógio acústico.

RELOGIOS DE SOL, PORTÁTEIS

Conforme já foi visto, os grandes relógios de Sol, como os Gnomons e os quadrantes solares, tinham sido descobertos há longa data, e em face sua incontestável utilidade encontrava-se em pleno uso nos centros mais adiantados do mundo. Mas... e nas viagens, como medir o tempo? Efetivamente a preocupação do homem fora criar relógios para a coletividade e isso ele conseguira com os obeliscos nas praças públicas, ao longo de algumas estradas mais concorridas, porém para longas viagens e mesmo para as locomoções normais fazia-se necessário um relógio portátil. É óbvio que essa falta se tenha feito sentir quase ao mesmo tempo em diversos lugares do mundo e que tenha havido esforços, até mesmo paralelos, para se concretizar a possibilidade de construir-se um relógio de pequeno formato que fosse fácil de transportar e permitisse, em qualquer parte que se estivesse, dependendo, é lógico, apenas da luz do Sol, saber-se que horas eram. No entanto, a exemplo dos outros relógios solares, não se pode determinar onde surgiu o primeiro relógio de Sol, portátil.
Dentre os diversos relógios de Sol portáteis que se conhece, sem duvida um dos mais notáveis pela sua extrema singeleza é o relógio solar de bolso, em forma de argola. Constitui-se, esse relógio, unicamente de um aro metálico com escala das horas marcada internamente e um orifício, pelo qual penetrava o raio de Sol que iria iluminar a escala no ponto correspondente à hora.
Este singular relógio de Sol é provavelmente um dos marcadores de tempo portáteis mais simples que a mente humana pode conceber, mostrando em sua singeleza a engenhosidade e espírito criador do homem. Era um marcador de hora muito relativo e a sua precisão estava condicionada à posição correta em que fosse colocado em relação ao Sol, mas... era um relógio, teve sua época e prestou sem dúvida grandes serviços.
Era natural, e ainda é em nossos dias, encontra-se nas estradas da Índia, faquires que se dirigem à bela e antiga cidade santa de Benares, situada às margens do Ganges, o rio sagrado da região indiana em cujas águas “estão todos os remédios”.
A caminhada era, para mitos, bastante longa e certamente seria útil contar com um relógio que pudesse ser transportado sem dificuldade. Os faquires e os monges tibetanos resolveram o problema, lançando mão, certamente sem pensar, do mais provável medidor de tempo que o homem usou pela primeira vez... um simples cajado!
Não se tratava porem de um singelo bastão redondo fincado no chão, como seus ancestrais o teriam feito há muitos séculos passados, mas sim de um bastão octogonal, tendo em sua parte superior um cordel atado, que servia para mantê-lo pendurado, no momento de ser usado para indicar as horas; acima de cada face, nos oitos lados, havia diminutos furos nos quais se encaixava uma pequena cavilha. Em cada uma de suas oito faces uma escala horária correspondia a época do ano em que se usava esse medidor de tempo. Isso era uma evolução, pois a trajetória do Sol varia de altura em relação à Terra, conforme a época do ano e assim sendo a sombra, decorrente da exposição ao Sol, também altera sua posição do verão para o inverno.
Como se usava esse bastão marcador de tempo?Suponhamos que um faquir que levava consigo, em uma viagem, um desses primitivos relógios, desejasse saber as horas. Se estivesse, digamos, em fins de setembro, ele colocaria a cavilha no furo da face marcada “Ariman” – “Ariman” é o nome do mês que corresponde aproximadamente a um período de tempo situado entre meados de setembro e a metade de outubro – a seguir ergueria o bastão, segurando-o pelo cordel, e verificaria qual o ponto alcançado pela sombra projetada pela cavilha; essa era a hora em que se encontrava.
Outro curioso e interessante relógio do Sol, portátil, é o que os pastores da região de Benares, a cidade santa da Índia, aqui referida, usaram, e quiçá até hoje usam.
Trata-se de uma peça engenhosa, compreendendo um cilindro de madeira, também com escalas para os diversos meses do ano, a exemplo do bastão dos faquires, descrito anteriormente, e que lhes permitia medir o tempo de maneira rústica, no entanto, suficiente à sua existência pastoral e primitiva.
Os relógios solares cilíndricos, denominados “Relógio do Pastor”. O cilindro é dividido em 12 espaços ao redor de sua circunferência e sua agulha é móvel, permitindo um ajuste sobre a escala desejada.
Como toda a classe de marcadores de tempo, também os relógios solares portáteis relativamente complexos e curiosos.
A parte artística desses relógios interessou sobremaneira ao homem, que os construiu de uma infinidade de formas, desde as mais toscas e simples, até as mais perfeitas e rebuscadas. Há verdadeiros trabalhos de arte nesse setor.
Quanto aos materiais usados em sua construção é certo que neles tenham sido entregues o maior numero de materiais conhecidos, desde os mais simples como o barro cozido, a pedra e a madeira até materiais nobres como o marfim, a prata e o ouro.
Os relógios de Sol não tiveram, evidentemente, um período determinado e estanque na historia da humanidade. Eles foram sem duvida alguma os primeiros instrumentos com que o homem pode contar para a medição do tempo e durante poucos outros meios de medir o tempo foram surgindo, isto de uma forma inicial mais paralela do que substitutiva.
Só com o correr dos séculos é que o relógio de Sol foi gradativamente perdendo terreno para instrumentos mais aperfeiçoados, não chegando, no entanto a ser suprimido de forma total, pois em todas as épocas teve seus adeptos e mesmo em nossos dias ainda são construídos, muito embora com finalidade mais decorativa do que propriamente funcional.
São inúmeras as cidades, em todo mundo, que possuem em seus parques públicos relógios de Sol artisticamente construídos e que atraem pela sua beleza e originalidade. Não deixa portanto de ser admirável o fato de que o relógio de Sol, sendo o primeiro relógio criado pelo homem, talvez a 5000 anos, ou quem sabe mais, seja construído ainda hoje em dia, o que não sucede, por exemplo, com os relógios de água que, em um sentido geral, foram totalmente abandonados com o advento de novos relógios.
Os cientistas, em todas as épocas, preocuparam-se com o refinamento técnico desses instrumentos, tendo sido, alguns relógios solares, equipados com dispositivos mecânicos de correção. É o caso do denominado Heliocronometro de Gibbs. Possui esse relógio um mecanismo interno que permite corrigir-se a posição do quadrante de acordo com os meses do ano, com grande precisão.
É interessante assinalar-se também que, logo após o termino da segunda guerra mundial, os jornais noticiaram que na Alemanha estavam sendo fabricados e vendidos ao publico relógios de Sol, de bolso, certamente para marcarem mesmo as horas!... Ao que a necessidade obriga!
Mesmo pondo-se de lado esta ultima nota pitoresca, é forçoso reconhecer-se o grande valor desse instrumento que, sendo o primeiro meio que o homem pode encontrar, em nossos dias, em pleno coração de uma cidade moderna, um ornamental relógio de Sol, ao lado de um recentíssimo relógio elétrico de torre.

DIA SOLAR VERDADEIRO – DIA SOLAR MÉDIO

O relógio do Sol baseia-se no aparente movimento do Sol pela abóbada celeste e na conseqüentes deslocação da sombra projetada sobre uma superfície plana ou curva, de um corpo iluminado por esse astro. Primitivamente esses relógios eram bastante rudimentares, porem, de certa época para cá, receberam muitos aperfeiçoamentos, obedecendo sua construção à Geometria Descritiva.
É um instrumento destinado a determinar as horas do dia pelo movimento da sombra de uma haste ou outro objeto, produzida pelos raios solares, podendo ser fixo oi portátil. Podem ainda ser horizontais, verticais, inclinados, cilíndricos, esféricos ou cruzados, sendo que os modelos mais em uso foram os verticais e horizontais.
Nos relógios de Sol horizontais, verticais e inclinados, normalmente os quadrantes são planos; nos cilíndricos, como o próprio nome indica, as horas são assinaladas sobre um cilindro, nos esféricos em uma esfera, e os cruzados por meio de uma cruz.
Os relógios solares na realidade não marcam as horas de forma idêntica aos relógios mecânicos; estes dividem o dia exatamente em 24 horas, cada hora em 60 minutos e cada minuto em 60 segundos; é uma divisão calculada pelo homem e o período representado por 24 horas, de um relógio mecânico, corresponde a um dia solar médio. Os relógios de Sol, muito embora marquem as horas aproximadamente às dos relógios mecânicos, raramente coincidem com estes, visto que assinalam as horas correspondentes ao dia solar verdadeiro. Vejamos agora a diferença existente entre o dia solar médio e o dia solar verdadeiro. Denomina-se dia solar verdadeiro o tempo que o globo terrestre demora em dar uma volta sobre seu próprio eixo, tomando-se como ponto de referencia o Sol. Sucede que, enquanto a Terra gira em redor de seu eixo, percorre também uma parte de sua órbita de translação ao redor do Sol – a Terra, portanto, ao girar sobre seu eixo, avança pelo espaço sideral, ou seja, tem dois movimentos: o de rotação e o de translação.
Se os dois movimentos da Terra fossem regulares, os dias solares teriam sempre a mesma duração, porém a órbita da Terra ao redor do Sol não é uma circunferência mas sim uma elipse e isto faz com que o movimento da Terra não seja regido pela lei do movimento uniforme, mas sim pela lei das áreas ou leis de Kepler, uma vez que foram elas descobertas pelo célebre astrônomo alemão João Kleper e enunciadas por ele em 1609; segundo essas leis, os astros, em tempos iguais, não percorrem espaços iguais, mas sim áreas iguais. Por esse motivo é que os dias de inverno e verão apresentam uma diferença em sua duração.
Se compararmos as horas de um relógio de Sol em relação aos relógios mecânicos, observaremos que o meio-dia solar oscila durante as diversas estações do ano, sendo isso ocasionado pela aparente variação do movimento de translação elíptica da Terra.
Os relógios mecânicos, devido ao calculo de suas engrenagens, marcam um tempo um tempo sempre regular, ou seja, o tempo médio, que é a média anual de todas as variações do tempo solar. Assim, nestes relógios os dias têm sempre o mesmo numero de horas, não apresentando nenhuma diferença de um dia para outro durante todo o ano, pois medem o dia solar médio, que é o tempo em que a Terra levaria para dar uma volta sobre seu eixo, tomando como ponto de referencia o Sol, se seu movimento de translação ao redor desse astro fosse rigorosamente uniforme em todas as épocas do ano, isto é, se sua translação ao redor do sol seguisse não uma elipse, mas uma circunferência.
Até os fins do século XVIII, e mesmo princípios do século passado, muitas obras foram escritas sobre a construção de relógios de Sol. E note-se, isto numa época em que os relógios mecânicos estavam plenamente difundidos, já se fabricando até mesmo relógios pequenos de bolso e a lei do pendulo, havia mais de 100 anos, tinha sido descoberta por Galileu Galilei!

RELÓGIOS DE ÁGUA

A CLEPSIDRA


Na historia do relógio tem um outro importantíssimo medidor de tempo, que, como o relógio de Sol, também teve grande influencia na marcha da evolução da humanidade, trata-se do relógio hidráulico ou clepsidra.
O homem – esse eterno insatisfeito – não poderia, na verdade, contentar-se com um medidor de tempo cujo funcionamento era tão restrito, como o relógio solar. De fato, a necessidade absoluta da presença dos raios do astro-rei, que esses relógios exigiam para indicar as horas, os tornavam de utilidade bastante limitada,, pois muitos eram os espaços de tempo que a luz do Sol não se fazia presente sobre a Terra. O período noturno, que era longo, os dias nublados ou chuvosos, tornavam esses relógios absolutamente sem utilidade, o que obrigou o homem a procurar novos caminhos que lhe permitissem ser realmente o senhor do tempo, sem limitações de qualquer ordem.
Para isto era necessário contar com outro principio que não a luz dos astros e o homem lançou mão de uma outra força da natureza, esta, porém constante, sempre presente a qualquer hora e qualquer momento, claro ou escuro, noite ou dia: a força da gravidade.
O escoamento de um liquido de um reservatório com um pequeno orifício na base, de um nível superior para um inferior, e a relativa regularidade da descida de sua superfície, deu ao homem o principio que lhe permitiu construir uma nova classe de medidores de tempo.
Realmente a decadência de escoamento contínuo e facilmente regulável da água pode ser comparada com a marcha regular do tempo.
Relógios hidráulicos ou relógios de água, foi o nome que tomaram esses instrumentos. Mais tarde, ao serem conhecidos e usados pelos gregos, receberam um novo nome: Clepsidra, que é uma palavra grega e cujo significado é o seguinte: Cleps = reter e hidra = água.
Assim como sucedeu com inúmeras outras descobertas, também não se pode assegurar ao certo quem, quando e onde surgiu a primeira clepsidra. Há que atribua sua invenção aos chineses, o que é mais provável, visto haver, em antigos documentos, indícios de que no reinado do Imperador Hoang-Ti, pelo ano 2679 a.C., esse povo já conhecia e usava a clepsidra.
No entanto, alguns autores atribuem essa primazia aos egípcios, com o que não corroboramos, uma vez que na historia do Egito a clepsidra começa a aparecer 5 séculos antes de Cristo e de forma mais precisa no reinado do faraó Ptolomeu I, por volta do ano 300 a.C.
Há ainda quem apresente Platão como o autor da mais antiga clepsidra, isto por volta do ano 400 antes de Cristo; outros apenas citam que foi ele o introdutor desse instrumento de medição do tempo, na Grécia. Que nesse país a clepsidra se encontrava em pleno uso, na época de Platão, não há duvida alguma, pois este filosofo em seus escritos declara que no seu tempo os filósofos eram bem mais felizes que os oradores; dizia ele: “estes são escravos de uma miserável clepsidra, ao passo que aqueles são livres e estendem os seusdiscursos tanto quanto querem”.
Os tribunais de Atenas, e mais tarde os de Roma, empregavam a clepsidra para determinar e limitar o tempo de duração dos discursos dos advogados, daí às conhecidas frases: “Aquam dare” (Plínio – Ep. 6.2.7.), para dar aos advogados o tempo de falar, e “Aquam perdere” (Quint II – 3,52), para indicar o tempo perdido.
Nessas cortes de justiças gregas, foram ainda os recipientes das clepsidras divididas em três partes iguais, sendo uma destinada à acusação, a segunda era para a defesa e a terceira para o juiz; nos depoimentos, o escoamento da água era detido, ficando assim a clepsidra “parada”.
Além do seu uso normal para marcar as horas, a clepsidra não teve somente nos tribunais um uso especial, ela também foi aplicada em diversas outras atividades humanas, onde se fazia necessária a marcação de um determinado espaço de tempo, como sucedeu na astronomia e na medicina.
O grande anatômico da antigüidade, Herófilo (325 – 270 a.C.) nascido em Cartago, e que viveu no reinado de Ptolomeu Sotes, comprovou o sincronismo do pulso com os movimentos cardíacos e foi provavelmente o primeiro medico a medir as pulsações do coração usando uma clepsidra como contador. Com sua aplicação no campo medico, abriu-se nova perspectiva ao emprego das clepsidras, tendo a Escola de Medicina de Alexandria, fundada por Herófilo e Erasistrato (neto de Aristóteles), se interessado pelos medidores de tempo, hidráulicos, e incluindo esses instrumentos no domínio da latro-mecânica, o que muito contribuiu para que se construísse, já nessa época, clepsidras de grande precisão.
Roma só veio a conhecer a clepsidra no 157 antes de nossa era, quando Scipião Násica levou a novidade para lá. Difundia-se assim o relógio de água por todos os principais núcleos de civilização da época pré-cristã. Júlio César, em suas conquistas, vai encontrar a clepsidra sendo usada em plena Gália Transalpina, uns 70 anos ante de Cristo.

RELÓGIOS DE ÁGUA, MECÂNICOS

Até então as clepsidras, muito embora fossem construídas das mais variadas formas, limitavam-se sempre a um recipiente cheio de água que escoava gota a gota por um ou mais furos existentes na sua base, gotas essas que caiam geralmente em outro vaso situado mais abaixo. As paredes do vaso superior ou inferior, e as vezes dos dois, eram marcadas com traços calculadamente espaçados e conforme o nível da água ia descendo no vaso superior e subindo no inferior, passava pelas diversas marcações, indicando assim o transcorrer do tempo.
Normalmente as clepsidras eram vasos toscos de pedra, madeira, barro cozido e, primitivamente, mesmo recipientes de couro, que serviam como depósitos de água para esses singelos marcadores de tempo. É evidente que, mesmo contando com tão parcos recursos, o homem procurasse conseguir o Maximo de precisão nesses tão úteis e tão simples marcadores de horas.
Em todos os tempos, sábios ilustres se dedicarem ao seu aperfeiçoamento e puderam observar que a regularidade desses relógios hidráulicos dependia de diversos e importantes fatores, dentre eles a limpidez da água e a sua quantidade exata no recipiente.
Os egípcios, bastante evoluídos na construção das clepsidras, perceberam que as paredes verticais desses relógios de água apresentavam um grave inconveniente: a água não escoava a toda a altura do recipiente com a mesma rapidez. Quando a clepsidra estava cheia, a água saia mais depressa e conforme seu nível ia baixando, o ritmo diminuía cada vez mais, à proporção que decrescia o volume de água dentro do vaso.
Isto é facilmente compreensível, uma vez que a pressão da base de uma coluna de líquido aumenta proporcionalmente à sua altura, o que, evidentemente, determina um ritmo desigual ao escoamento da água da clepsidra entre o ponto mais alto e mais baixo desta, ou seja entre um maior e um menor volume líquido.
Por essa razão é natural que nas primeiras horas saia mais água que nas seguintes; em decorrência, no inicio, o nível de água baixa muito depressa e depois cada vez mais vagarosamente.
O egípcio Amontons foi o primeiro a construir uma clepsidra,levando em conta esse problema; assim, para compensar essas diferenças, ele gravou os traços demarcatórios das horas, ou de frações se fosse o caso, a distancias desiguais uns dos outros, de forma decrescente, ou seja: os traços situados na parte mais alta do recipiente eram mais separados e progressivamente iam diminuindo os espaços entre si, até chegarem aos mais baixos.
Essa foi uma solução que já resolvia muito bem o problema. Não obstante, com o desenvolvimento da mentalidade cientifica, um outro caminho foi encontrado para a eliminação desse inconveniente, e isso foi conseguido por meio de cálculos matemáticos, dando-se a inclinação de 70° às paredes do recipiente; dessa maneira a água escoava a um ritmo uniforme e a divisão correspondente ao tempo resultou em distancias todas iguais, com o mesmo espaço entre os riscos, de cima abaixo do vaso.
Cerca de um século antes de nossa era, processa-se uma alteração radical na construção de clepsidras. Isto sucedeu quando Ktesíbio, famoso mecânico de Alexandria, que se dedicava à construção de maquinas de guerra, instrumentos cirúrgicos e outros aparelhos, aperfeiçoou de maneira notável o primitivo relógio de água, agregando-lhe um mecanismo de rodas dentadas, tornado-o portanto um relógio mecano-hidráulico. Foi uma inovação realmente extraordinária para a sua época, constituindo-se também no primeiro passo que levou à construção dos relógios puramente mecânicos, cujo aparecimento se deu em fins da Idade Média.
Baseados em documentos que descrevem esses relógios mecano-hidráulicos, diversos autores procuraram reconstruí-los, sendo uma das reconstruções mais conhecidas a que foi realizada por Oscar Hulcker. Esse relógio hidráulico de Ktesíbio constitui-se de um recipiente de metal, dentro do qual havia uma bóia que ia subindo conforme se elevava o nível da água, proveniente do gotejamento que partia de um recipiente superior; encimando essa bóia existia uma vareta mantida em posição vertical por duas guias, na extremidade dessa vareta uma pequena figura, com um braço esticado, empunhava uma agulha que indicava as horas em uma coluna graduada. Essa coluna apresentava divisões correspondentes às diversas estações do ano e era giratória, permitindo ao relógio funcionar indicando as oras durante todo o ano.
Outro relógio também atribuído a Ktesíbio, e considerado um dos melhores do seu gênero, compunha-se ele de uma coluna graduada que era movimentada por um sistema de engrenagens, fazendo uma volta em um ano, junto a essa coluna uma figurinha vertia água de uma coluna graduada que era movimentada por um sistema d engrenagens, fazendo uma volta em um ano, junto a essa coluna, uma figurinha vertia água de uma clepsidra comum, gotejando para dentro de uma câmara interna do aparelho, o que fazia elevar-se um flutuador que possuía uma haste sobre a qual uma outra pequena figura, munida de uma varinha, indicava as horas nos círculos existentes na coluna, a qual girava sobre si mesma, automaticamente, mostrando as divisões correspondentes aos doze meses do ano.
Esses relógios hidráulicos com engrenagens, de Ktesíbio, deram margem à criação de diversos aparelhos desse gênero, sendo alguns muito interessantes. Trata-se de relógios que já possuíam mostradores, semelhantes aos que são usados atualmente e se compunham simplesmente de um receptáculo no qual gotejava água, que ao subir de nível elevava uma bóia, com uma cremalheira que se engrenava em uma pequena roda dentada, no eixo da qual se achava o ponteiro que indicava as horas no mostrador. Note-se que, nessa época, começou a ser usado apenas o ponteiro de horas; somente muitos séculos depois é que iria ser agregado ao relógio um outro ponteiro o de minutos.

CLEPSIDRAS GRANDIOSAS – DE LUXO MARITIMAS

A presença de clepsidra foi marcante, durante muitos séculos , na historia da civilização e os povos mais evoluídos receberam grandemente sua influencia.
Sua construção obedeceu às mais variadas formas e seu tamanho ia desde miniaturas até clepsidras de enormes dimensões, como a “Torre dos Ventos”, que ainda hoje pode ser admirada em Atenas. Essa histórica torre foi construída por volta do ano 158, antes de nossa era, se destinado à indicação pública das horas; possui 8 faces externas, guarnecidas por quadrantes solares e no seu interior constata-se que existiu uma clepsidra, cujas águas corriam por um aqueduto.
Quanto aos detalhes construtivos das clepsidras, havia-as desde um primarismo externo, contrastando com outras muito complicadas, que indicavam os dias e os meses e anunciavam as horas com a ajuda de esferas metálicas que caiam, havendo ainda outras que faziam mover-se figuras automáticas ou estatuetas alegóricas.
A par dos relógios de água de grande simplicidade existiam também os de elevado luxo e de um requinte extraordinário, como uma clepsidra que Pompée conquistou no ano 62 a.C., em Pont-Euxim, que era construída de ouro maciço e cujo ponteiro, assim como os números da escala das horas, eram guarnecidos de pedras preciosas, necessitando sua água ser renovada somente uma vez por dia.
No ano 80 a.C., Possidônio inventou um marcador de tempo que era, segundo Drham, uma verdadeira peça de relojoaria. Cita-se como um dos mais preciosos e curiosos relógios de água, o que Carlos Magno (742 – 814) recebeu como presente de Harum-Al-Raschid. Diz a historia que se tratava de uma luxuosa e complicada clepsidra de esmerada construção, possuindo os recipientes de metal artisticamente arabescados com trabalhos de grande paciência e que, a cada hora que transcorria, punha em movimento uma serie de figuras, assinalando sonoramente as horas por meio de campainhas.
A historia da dinastia Tang, da Pérsia, nos conta que havia em uso nessa corte uma clepsidra muito engenhosa, constituída por uma balança que continha doze esferas metálicas, as quais caiam, de hora em hora, sobre um gongo, indicando assim o transcorrer das horas.
Como se vê, já bem antes da era cristã, a construção das clepsidras evoluiu de forma apreciável e diversos foram os centros culturais do mundo antigo que se preocuparam em aperfeiçoar esses mediadores de tempo. Dentre os mais importantes se situam, sem duvida, a Grécia, Roma, Alexandria, Arábia e Pérsia.
É interessante assinalar-se que até certa época (era helênica e helenística) não havia propriamente pessoas que se ocupassem exclusivamente com a construção de clepsidras. Não existia exclusivamente com a construção de clepsidras. Não existia portanto a profissão especifica de relojoeiro; os mecânicos da época, que se dedicavam à construção de instrumentos e maquinas, é que se encarregavam dessa incumbência, sendo a parte artística das clepsidras de luxo executadas pelos ourives. Aos estudos e aprimoramento técnico da clepsidras muito se dedicaram inúmeros astrônomos e arquitetos dessas pretéritas épocas.
A classe efetiva de relojoeiros, que se consagraram se fato à profissão, construindo ou reparando marcadores de tempo, deve ter surgido no tempo dos romanos, que denominaram a arte relojoeira como “gnomônica” e que chamavam os construtores do relógios da época de “clepsidraros”.
Já em nossa era, no ano 490, Teodorico, rei dos Visigodos, envia a Gondebando dois relógios, sendo um solar e outro hidráulico; o astronomo chinês Y-Hang construiu no ano 721, uma extraordinária clepsidra com sistema de engrenagens e que indicava o movimento dos astros.
Na época Alexandrina, a ciência floresceu em Alexandria, que se tornou um dos centros eruditos mais importantes da época, porem, com o transcorrer dos séculos , a ciência e técnica da construção de clepsidras passou para a antiga Bizânaio – velha cidade onde hoje de situa Constantinopla – e daí estendeu-se para a Arábia e a Pérsia.
Daquela época chegarem até nossos dias muitos desenhos de clepsidras assim como preciosas miniaturas representando esses relógios hidráulicos e também autômatos movidos pela água.
Não obstante a invenção do escape e peso motor, século XIII, e do conseqüente desenvolvimento na construção de relógios mecânicos, ainda durante muito tempo estiveram em uso os relógios de água.
Chegaram mesmo a ser construídas clepsidras que se destinavam a viagens marítimas e portanto próprias para serem sujeitas aos balanços constantes dos barcos; estes relógios hidráulicos possuíam, a exemplo dos usados em terra firme, dois vasos, um situado superiormente em relação ao outro e gotejando dentro deste; o que permitia o seu uso, mesmo em movimento, era a presença de uma escala que constituía de uma vareta fixada bem centrada num dos vasos, de tal forma que mesmo com o balanço do barco e com a inclinação da clepsidra, a água se mantinha no seu centro, praticamente estabilizada num mesmo nível.

CLEPSIDRAS DE TEMPO SOLAR

As clepsidras normais gotejavam de maneira continua e uniforme, por essa razão marcavam o tempo médio, isto é, não acompanhavam as horas indicadas pelos relógios solares.
Como aperfeiçoamento, na tentativa de registrarem-se as horas irregulares, acompanhando o tempo solar verdadeiro, foi criada, também em época remota, uma esfera com graduações, que era colocada na entrada do tubo de escoamento do vaso superior de uma clepsidra, de forma que se tomando o inverno com dias mais curtos, como inicio de marcação das horas, estas eram de menor amplitude devido ao gotejar mais rápido da água, porém, gradativamente, com o passar do tempo, a esfera ia se encaixando cada vez mais, o que tornava as horas mais longas e conseqüentemente os dias, que correspondiam ao verão, acompanhado aproximadamente aos dias solares.
Ao por-se uma destas clepsidras em funcionamento encaixava-se a esfera, que era provida de marcações, no tubo de escoamento, também com escala, no local correspondente ao dia e mês e ano e de acordo com aposição do Sol. No momento em que a esfera alcançasse a sua posição mais profunda no tubo e, portanto. Assinalando os dias mais longos, era necessário retirá-la e pô-la novamente na posição inicial.
Não há duvida que esta foi mais uma das inúmeras tentativas para dar ao relógio de água a possibilidade de marcar as horas acompanhando o tempo solar; compreende-se que este era o tempo considerado ideal naquelas épocas em que o relógio dominante era o Sol e portanto todas as atividades eram por ele guiadas durante o dia; evidentemente, uma clepsidra que acompanhasse as horas irregulares era valiosa, pois permitia, nos dias sem Sol e durante a noite, que o ritmo solar não fosse quebrado, durante todos os períodos do ano e em suas diversas estações.
Em nossa época, seria esse um aperfeiçoamento totalmente desnecessário, uma vez que o tempo médio, com as suas horas regulares durante todo o ano, foi universalmente adotado e é o que impera, sendo indubitavelmente o que melhor responde às necessidades do progresso, evitando-se a complexidade da marcha irregular das horas que indicam os relógios solares, tornando, além da comodidade de um tempo médio sempre igual, mais fácil a construção dos relógios mecânicos.
Nada de novo criou o homem com a divisão do tempo em horas regulares nos relógios mecânicos, pois as clepsidras mais primitivas já indicavam o tempo médio, que o homem antigo até certo ponto desprezou, e no entanto, hodiernamente, é a base de toda a atividade humana.

CLEPSIDRAS – SÉCULO XVII A XIX

Em plenos séculos XVII e XVIII, apesar dos grandes aperfeiçoamentos havidos nos relógios mecânicos, construídos, construíram-se e usaram-se clepsidras; o Conservatório de Artes e Ofícios de Paris possui uma clepsidra construída em 1675 por Claud Perrault e na Real Academia de Ciências da França encontra-se um relatório feito em 1695, arespeito de um projeto para construção de uma clepsidra que devia servir aos médicos para contagem das pulsações do coração, podendo servir igualmente para a navegação por mar.
No livro “Observações e Experiências Físicas sobre a construção de uma Nova Clepsidra” – editado em Paris em 1695 – o autor salienta como vantagens particulares dessses instrumentos: “sua construção vantajosa aliada à sua simplicidade e precisão”, e como inconvenientes: “que a água escoa com maior ou menor dificuldade porque o ar é mais ou menos espesso ou mais frio ou mais quente, e que ela escoa mais rápido no começo do que no final devido a diferença de pressão”.
Para se ter uma idéia de como a clepsidra chegou até relativamente próximo à nossa era, creio se interessante citar que em 1725 a Academia de Ciências de Paris propôs, como objetivo de concurso, a determinação das leis do movimento das clepsidras, e mesmo Newton, o célebre matemático inglês, fez dela objetivo de suas pesquisas.
Alem disso, há apenas alguns anos, em 1827, Blanc ofereceu à Academia de Ciências de Paris uma clepsidra que possuía um deposito de água com a capacidade de 1500 litros, podendo funcionar durante três meses seguidos.
Pode-se encontrar em nossos dias, em museus e coleções particulares, muitos relógios de água construídos nos séculos XVII e XVIII, havendo mesmo exemplares bastante curiosos, o que demonstra o carinho e atenções que foram dispensados a esses marcadores de tempo, mesmo quando já havia relógios mecânicos notáveis e entre eles o pequeno relógio transportável – de bolso – começava a se fazer presente.
Pelo exposto sobre relógios de água podemos concluir que se tratou de um marcador de tempo de grande valor para a humanidade; não há duvida que a clepsidra superou em muito o relógio solar e isso por diversas razoes; a principal é, sem duvida, por não depender das condições atmosféricas, nem do local, nem da hora, em suma, por prescindir da luz solar. A clepsidra facultou também ao homem criar uma melhor divisão do tempo e não mais se cingir à determinação das horas irregulares que o relógio solar impunha, pois não há duvida que o tempo médio é o que mais convém ao homem; outra grande vantagem foi permitir o registro do tempo em períodos extremamente menores que o relógio do Sol, o que evidentemente trouxe grandes benefícios à marcha da civilização.

RELÓGIOS DE AREIA

GÊNESE DA AMPULHETA

A criação da ampulheta, também chamada relógio de areia, foi sem duvida uma decorrência natural da necessidade que o homem teve de possuir um aparelho transportável para medição do tempo. Realmente não é difícil imaginarmos os problemas que a falta de um marcador de tempo nessas condições ocasionava.
O relógio solar, muito embora já fabricado em dimensões reduzidas, não poderia satisfazer: a falta de Sol inutilizava-o de maneira total, alem disso os relógios de Sol não permitiam medições de períodos de curto tempo.
A clepsidra, que chegou a ser construída com notáveis aperfeiçoamentos, não se prestava evidentemente para ser levada no dorso dos camelos, pelas caravanas, ou nas carretas que acompanhavam um exercito; o sacolejar constante desses meios de transporte, em suas peregrinações por planícies, vales ou montanhas, tornava de pouco e em muitos casos nenhuma valia o relógio hidráulico, que pela sua própria constituição era nada pratico e de escassa possibilidade de ser usado com êxito nesses casos.
Muito embora a ampulheta não se prestasse a uma marcação efetiva das horas do dia, cobria perfeitamente a necessidade de se controlar serviços a serem executados em um determinado espaço de tempo e isto, evidentemente, era necessário em qualquer parte ou qualquer período do dia ou da noite.
O desenvolvimento da fabricação do vidro, alguns séculos antes da era cristã, provavelmente gerou a idéia da criação de uma clepsidra transportável, toda fechada, à prova de vazamento, certamente constituída, como era tradicional, por dois vasos um em sentido superior ao outro e ligados internamente por um orifício por onde água escoasse. Daí a substituição da água pela areia e desenvolvimento do desenho da ampulheta, como hoje a conhecemos, terá sido um passo natural, uma vez que a areia, constituída de partículas sólidas, sem duvida se apresentava como o material ideal para esse fim devido à sua mobilidade e estabilidade elevada em relação à água das clepsidras.
Muito embora alguns historiadores considerem o filósofo Platão, discípulo de Sócrates, como o autor do mais antigo relógio de areia, ampulheta para uso noturno, isto por volta do ano 400 a.C., e outros atribuíram ao sábio grego Aristóteles a criação da primeira ampulheta, pelo ano 250 a.C., deve-se crer que os egípcios foram autores da invenção, uma vez que a eles se atribui a descoberta da fabricação do vidro, pelo ano 2500 a.C., e o posterior desenvolvimento de sua produção, assim como a invenção do “cachimbo” para soprar o vidro, que permitiu a fabricação de recipientes ocos; além disso a presença próxima de desertos, com suas areias finas e secas, poderia muito bem ter sido mais um elemento a sugerir aos egípcios essa descoberta,
A ampulheta, em ultima analise, nada mais é do que uma clepsidra, na qual ao invés de se usar água, emprega-se areia para a medição de um espaço de tempo. Os romanos a denominaram “ampulla” que significa em nosso idioma, âmbula, vaso ou redoma.
O relógio de areia pe constituído de dois recipientes cônicos, de vidro, ligados pelos vértices que possuem um orifício interligando as duas câmaras. São as duas âmbulas ou recipientes montadas em uma armação de madeira ou metal, formando um conjunto uno transportável. Um dos recipientes é cheio e areia fina e perfeitamente seca.
Ao colocar-se a ampulheta em sentido vertical, com o recipiente superior cheio, a areia passará lentamente pelo orifício dos vértices e cairá no inferior.
A marcação do tempo é o período que a areia demora para passar de um vaso ao outro; espaço de tempo esse previamente determinado, por ocasião da construção do aparelho, levando-se em conta os seguintes fatores: dimensão das âmbulas, quantidade de areia dentro da âmbula, dimensão do orifício que liga as âmbulas e finalmente o grau de granulação da areia.
Terminada a marcação de um período, pela passagem total da areia, é o bastante inverter-se a posição das âmbulas, simplesmente virando-se a ampulheta, para que ela novamente funcione, iniciando um novo ciclo de marcação.
Os períodos de tempo registrados pela ampulheta apresentam uma precisão relativa, considerada razoável para determinados fins. Ela foi empregada especialmente quando se tratava de medições de curta duração, uma vez que sua pouca precisão não permitia observações de maior amplitude. Tinha no entanto características importantes e valiosas: era facilmente transportável e seu manejo muito simples, podendo ser usada em qual quer lugar com muita comodidade.
Esse instrumento, realmente pratico, teve o seu uso tão difundido que não há exagero em afirmar-se ter sido o medidor de tempo mais empregado na antiguidade.
Devido ao seu desenho característico e equilibrado foi preferido por artistas de todas as épocas para representar o escoar continuo e interminável do tempo.

DIFUSAO, AMPULHETAS ARTÍSTICAS

Inicialmente as ampulhetas eram fabricadas para registrar apenas frações de horas, posteriormente chegaram a ser produzidas com maiores dimensões, marcando até uma hora ou mesmo mais.
Com sua grande difusão chegaram a estar presentes muitas vezes sobre o púlpito das igrejas, a fim de indicar ao pregador o tempo de seu sermão, assim como nos tribunais para determinação do tempo que os advogados dispunham para os interrogatórios.
Foi também usada a bordo, em combinação com a barquinha, para avaliar-se a velocidade do navio e até bem pouco tempo atrás alguns professores ainda a usavam nas escolas, para indicar visivelmente o tempo destinado às provas de exame ou a uma lição oral.
Por volta do ano de 1550 os jovens de Augsleny adotavam a moda de carregar a sua ampulheta amarrada ao joelho.
Uma das ampulhetas mais famosas foi a que pertenceu a Napoleão; era um belíssimo exemplar com armação de bronze artisticamente cinzelado e bojos de finíssimo cristal.
Em 1727 o conde Prosper inventou interessante relógio de areia: os seus vasos eram constituídos por longos tubos de vidro, sobre os quais achavam-se gravadas as horas e suas subdivisões.
Além das ampulhetas simples, fabricaram-se também as compostas, a fim de prolongar-se a duração do seu funcionamento; para isso reuniam-se uma série desses aparelhos em uma só armação, de forma que se poderia usá-las consecutivamente.
Na igreja de Anamerbach, próximo a Iena, na Alemanha, existe um interessante relógio de areia, que data do século XVI; sua armação é toda construída de ferro forjado, possuindo 4 ampulhetas de vidro justapostas. É considerada uma verdadeira obra de arte, e demonstra bem o carinho que nessas pretéritas épocas se dispensava a esses marcadores de tempo.
De acordo com a dimensão das ampulhetas, elas funcionavam um quarto de hora ou mais, permitindo assim constatar-se uma subdivisão de hora, durante o funcionamento do conjunto.
No decorrer de longo período, e mesmo nas proximidades da nossa época, a construção de ampulhetas seguia um curso normal; até poucas dezenas de anos atrás ainda se entravam à venda, nas casas comerciais do ramo, ampulhetas de diversas dimensões, desde 1 minuto até 1 hora.
No tempo de nossos avós eram aplicadas em usos domésticos, por exemplo, na cozinha, serviam para marcar o tempo do cozimento de ovos e de outros alimentos.
Também tiveram sua aplicação na medicina e prestaram bons serviços junto a algumas redes telefônicas, onde se destinavam a medir a duração das comunicações interurbanas ou para outros casos semelhantes.
Foi um instrumento que atraiu muito mais a atenção dos artesãos de todos os tempos que a clepsidra ou relógio solar; eles esmeravam-se em sua construção e ao redor do seu desenho tradicional, que todos nós ficamos conhecendo desde pouca idade, os artistas se aplicavam, nos seus mínimos detalhes, apresentando verdadeiros e primorosos trabalhos de arte executados em muitos estilos.
Nos seus bojos foram usados desde o vidro mais rudimentarmente fabricado até ao mais fino e translúcido cristal. Em suas armações aplicavam-se os mais variados materiais, desde a madeira rústica à madeira de lei cuidadosamente entalhada, assim como mármores, ferro batido, bronze, prata e ouro finalmente cinzelados.
Ainda hoje é a ampulheta um elemento decorativo dos mais expressivos e sua presença marca o simbolismo do tempo.
É de todos conhecida a figura esquálida e anciã que sobraça a ampulheta ou a mostra como a querer que todos vejam e saibam que o tempo, a quarta dimensão, é algo que escoa de maneira continua e irreversível e os segundos, minutos, horas, dias semanas, meses e anos vão se sucedendo e modificando a face das coisas e dos homens, de forma absolutamente inapelável e que foge inteiramente ao controle desse mesmo homem, que tanto conseguiu e certamente conseguirá, mas que dobra ante à ação do tempo.

RELÓGIOS DE FOGO

REÓGIOS DE AZEITE

Diversos tipos curiosos de medidores de tempo surgiram após os relógios solares, as clepsidras, as ampulhetas e alguns deles mesmo após os primeiros passos dados pelo homem para a realização dos relógios mecânicos.
Em todos os tempos a mente humana, sempre fértil e criadora, procurou todos os meios possíveis que lhe permitissem marcar com certa regularidade o escoar continuo do tempo; assim tudo que, dentro de um período mais ou menos certo, permitisse verificar visualmente esse passar das horas, o homem adaptou e usou como medidor de tempo. Está neste caso a queima de óleo de uma lamparina.
A essa classe de marcadores do tempo foram dadas as seguintes denominações: Relógio de Azeite, Lâmpada-Relógio ou ainda Silencioso; este último nome devido à característica peculiar de seu funcionamento totalmente sem ruído.
A exemplo da Clepsidra, onde um liquido – a água – baixando o nível ao ser consumido por combustão. A similitude existe, apenas diferindo a maneira como o liquido decresce em seu deposito.
Há historiadores que consideram ter o relógio de azeite surgido no Oriente, outros há que situam o seu aparecimento na Europa. Determina-se que está certo sem duvida uma tarefa difícil, senão impossível, em face das controvérsias e da falta de documentação exata. Quer nos parecer, no entanto, que não se trata de relógio de grande antiguidade. Provavelmente terá surgido durante a idade media, muito embora sua presença tenha sido mais determinante no século XVIII, na Europa.
Era esse relógio de azeite constituído de uma lamparina feita de estanho, com um deposito de cristal ou de porcelana translúcida, que continha azeite. A lamparina, do tipo sem mecha, funcionava como uma lâmpada comum de azeite e era alimentada pelo óleo do depósito, o qual possuía um tubo de aspiração; com a queima do azeite ma lamparina, o nível deste baixava no deposito permitindo constatar-se a descida continua do liquido.
Na parte externa do deposito, em sentido vertical, havia uma faixa graduada, marcada com algarismos romanos, que representavam as horas. Com a lamparina acesa, o nível do óleo decrescendo no deposito assinalava as horas.
Como eram esses relógios mais usados no período noturno, em sua maioria possuíam uma escala que ia das oito da noite às sete horas da manhã.
É compreensível que tenha sido usados principalmente à noite, uma vez que lamparina servia para iluminar o ambiente e o deposito devidamente demarcado assinalava a hora. Estes relógios de azeite eram aferidos por comparação, variando-se o orifício da saída do azeite, para a sua regulagem. Apresentavam uma relativa precisão de funcionamento, no entanto considerada razoavelmente boa para a época, por força do fim a que se destinava.
A presença mais acentuada do relógio de azeite deu-se na Europa, no século XVIII, e mais especificamente o seu uso generalizou-se em maior escala no Norte da Alemanha.
A sua difusão relativamente apreciável deve-se evidentemente à sua dupla finalidade: marcação das horas e iluminação. Não se pode negar o seu grande valor utilitário, numa época em que os homens não contavam com melhores possibilidades de iluminação e os poucos marcadores do eram escassos.

DESPERTADOR CHINÊS

Compunha-se esse relógio, basicamente, de um recipiente oblongo, em forma de barca, com divisões formadas por pequenos arames dobrados, que serviam de suporte a uma vareta de material combustível. As varinhas combustíveis ram feitas de serragem de madeira e resina.
A função dos arames dobrados era dupla: atuavam como grelhas, deixando a vareta combustível livre para queimar e, ao mesmo tempo, devido a serem colocadas em intervalos regulares calculados, serviam como escala para indicar o transcorrer do tempo, uma vez que o ponto de combustão da vareta, ao avançar por esta, passava por arame após outro. O seu funcionamento, pelo que se diz, era muito bom e de uma precisão razoável. O que, no entanto, mais se destaca neste relógio é a sua função de despertador. Com esta finalidade eram pendurados dois pesos metálicos, em forma de esfera, amarrados às extremidades de um fio que era colocado atravessado na barca, sobre a vareta, atingia o fio e queimava-o, os dois pesos caiam dentro de uma tigela de cobre ocasionando um ruído bastante forte.
A construção desta variante do uso do fogo, como elemento com que o homem contou para medir o tempo, é atribuída à habilidade dos chineses.

CORDA COM NÓS

Este marcador de tempo é realmente de um primitivismo a toda a prova. Foi conhecido na Ásia e mais especificamente na Coréia, onde seu uso, diz-se, foi mais generalizado; certamente outros povos também o conheceram e tiveram suas experiências com ele.
Constituía-se de uma simples corda, possuindo nós em intervalos regulares, correspondentes a um período de tempo de antemão.
Para seu uso, pendurava-se a corda e ateava-se fogo em sua extremidade inferior; o tempo que levava a queimar, de nó a nó, entre os diversos nós, era basicamente o mesmo, servindo portanto para medir, embora precariamente, o passar das horas.
Se havia medidores de tempo com grandes margens de erro na assinalação dês horas, sem duvida a corda com nos sobrepunha-se a todos neste particular. Uma corda queimando apresenta uma série de grandes pormenores determinando que sua combustão seja mais lenta ou mais apressada: o material, o grau de umidade no momento de ser usada e, também, como fator preponderante, a variação da intensidade da circulação do ar ambiente, no momento da combustão. Como vemos, a relatividade do registro do escoar do tempo pela corda com nós era tão acentuada que somente era possível seu uso em ocasiões nas quais os erros pouco ou nada influíam na marcha dos acontecimentos, como por exemplo sucedia nas mudas de sentinelas em quartéis.

RELÓGIOS VELA

Outro curioso marcador de horas foi a vela. Sim, a simples vela, tão conhecida, também surgiu de relógio, tornando-se, em certo período da historia, o relógio-vela. Como é lógico, sua utilização foi principalmente no período noturno. Chegou a ser um medidor de tempo bastante comum, a tal ponto que houve época na qual à pergunta: “que horas são?” respondia-se: “uma vela”, ou “duas velas”.A noite se dividia-se, então, em três velas, assim ao responder-se digamos: “uma vela e meia”, é natural que se compreendesse a metade da noite, ou se a resposta fosse: “duas velas”, significava que duas partes da noite tinham passado.
O relógio-vela, como vimos e como seu próprio nome indica, possuía como elemento principal uma vela normal, que tinha em toda a sua altura uma série de riscos circulares, separados uns dos outros em espaços equivalentes a um determinado período e correspondentes ao tempo que a vela demorava a ser consumida de círculo a círculo.
Diz-se que o monarca Alfredo, o Grande, o Rei da Inglaterra, fizera fabricar e usar relógios-vela em sua corte. Isto não é de forma alguma estranhável, uma vez que a escassez de medidores de tempo nessas pretéritas épocas era muito grande e a iluminação, nas cortes européias, era proporcionada principalmente pelas velas.
Como é sabido, as velas levam determinado tempo a arder até consumir-se totalmente. Devido a este particular é intuitivo que pudessem se usadas para assinalar o tempo que passava e o homem aproveitou-as para esse fim, produzindo velas-relógio de diâmetros e comprimentos previamente determinados, demarcando-as com uma escala circular que lhe permitisse acompanhar o passar das horas.
A divisão mínima, normalmente usada nesses relógios-vela, era o período de um quarto de hora.
O uso dessas velas, como medidores de tempo, deu-se mais acentuadamente durante a Idade Media; seu funcionamento também apresentava, como não podia deixar de ser, erros bastante apreciáveis na precisão da marcação das horas; no entanto, como se destinavam a assinalar o transcorrer do tempo, durante períodos que raramente iam a mais de algumas poucas horas, evidentemente era mínima a influencia acarretada por esta falta de precisão.
Os relógios-vela tiveram sua difusão bem menor que o relógio de azeite. É fácil compreender-se a razão: enquanto o relógio de azeite, uma vez fabricado e com seu recipiente devidamente calibrado, poderia funcionar muitas vezes, simplesmente enchendo-se o seu recipiente de azeite, o mesmo não se dava com o relógio-vela, que funcionava uma só vez, sendo necessário nova calibrada cada ocasião que se pretendesse o registro do tempo.

RELÓGIOS DE IMERSÃO

A humanidade, em sua procura incansável de novos medidores do tempo, criou um outro relógio de água basicamente muito simples, contendo no entanto algo daquela engenhosidade que o homem sempre demonstrou através dos tempos. Isto deu-se por volta do século XV a.C., quando apareceram no Egito curiosos relógios hidráulicos, nos quais foi aplicado um método inverso ao da clepsidra propriamente dita, isto é, ao invés da água sair de um recipiente, através de um orifício, ela penetrava, pelo furo, no vaso. Eram os relógios de água, de imersão.
Constituíam-se esses medidores de tempo, de um vaso de barro cozido, possuindo em sua base um ou mais orifícios. Algumas vezes apresentavam-se com delicadas decorações em baixo relevo, com hieróglifos, certamente alusivos à fugaz passagem do homem pela Terra.
O funcionamento desses relógios de água, de imersão, era muito simples, bastava colocar-se o vaso sobre uma superfície de água; esta ao penetrar pelo furo ia enchendo o vaso, ocasionando seu lento e gradual afundamento até uma total imersão, marcando nesse movimento um espaço de tempo mais ou menos regular.
Uma vez o vaso cheio e totalmente mergulhado, caso se desejasse nova medição desse período de tempo, era somente necessário esvaziá-lo e recolocá-lo outra vez sobre a superfície da água.
Eram esses vasos fabricados com dimensões e orifícios correspondentes a período de tempo previamente determinado. Posteriormente aos egípcios, esse mesmo gênero de relógios de água, de imersão, foi usado e popularizado entre outros povos, tomando a forma de uma simples bacia de cobre, com um pequeno orifício no fundo, pelo qual o liquido se infiltrava lentamente, uma vez a bacia colocada sobre a água.
Essas bacias foram empregadas na Argélia, durante vários séculos , sendo também usados na Índia, pelos sacerdotes brâmanes. Bacias semelhantes, com a mesma finalidade de medir horas, foram ainda encontradas na Irlanda e estiveram em uso entre os antigos britânicos.
Os relógios de água, de imersão, como se pode depreender, eram bastante rudimentares, não possuindo um mínimo de condições técnicas, que lhe permitissem ampla vulgarização – tanto assim que os próprios egípcios desistiram de sua construção – o mesmo não sucedendo à clepsidra que recebeu inúmeros aperfeiçoamentos, visto possuir características de praticabilidade excepcionais, sendo, por essa razão, exploradas ao Maximo pelo homem, no seu afã de conseguir uma medição perfeita do tempo.

PRIMITIVOS RELÓGIOS MECÂNICOS

CHINESES E ÁRABES

Há historiadores que, baseados em documentos de origem chinesa, atribuem a esse povo a primazia na criação de um escape mecânico. O seu inventor seria o monge budista I-Hsing (682-727) que, com o auxilio de Liang Ling-Tsan, teria construído o primeiro relógio com um escapamento mecânico, por volta do ano 725. I-Hsing foi um notável matemático e astrônomo de seu tempo.
Em face de cultura milenar do povo chinês, não é improvável que tenham sido seus homens de ciência os primeiros a chegar à descoberta de um escape mecânico eficiente, uma vez que também eles, a exemplo dos árabes, já se haviam notabilizado pela construção de relógios de água, com sistemas de engrenagens que indicavam o movimento dos astros.
Não há, no entanto, nenhum vestígio de como teria sido esse escapamento chinês, tudo levando a supor tratar-se de dispositivo totalmente diverso, em desenho e detalhes construtivos, dos escapes aplicados nos primeiros relógios mecânicos europeus.
Na Europa, antes dos princípios do século XIV, não doram encontradas referencias que permitam assegurar-se a presença de relógios inteiramente mecânicos. E isto até mesmo nos seus principais centros de cultura ou entre os grandes entusiastas da relojoaria, como Guilherme de Alverno, arcebispo de Paris, falecido em 1248, ou ainda o rei Afonso, de Castela (1221-1284).
Presume-se, por conseguinte, ter essa categoria de relógios aparecido nos centros europeus somente ao findar o século XIII. Parecendo confirmar esse ponto de vista, temos o mais antigo relógio de torre conhecido, que é o da Catedral de Beauvais, na França, construído entre os anos 1300 e 1325 pelo cônego Etiénne Musique.
Por outro lado, alguns autores mencionam que os primeiros relógios de pesos a aparecerem na Europa foram para lá levados pelos cruzados e eram provenientes da Palestina.
Isto poderia perfeitamente ter sucedido uma vez que os povos do norte da África estiveram, em período anterior, bem mais evoluídos em arte e cultura que os europeus, sendo portanto até bastante lógico que, como evolução da clepsidra com mecanismo de engrenagens, tenham chegado à construção do relógio mecânico de peso, provavelmente com algum órgão regulador que contivesse o movimento das engrenagens, mantendo sua rotação dentro de uma regularidade, pelo menos algumas referencias acerca desses relógios, elas são bastante nebulosas, não contendo indicações que permitam avaliar o grau de evolução desses relógios ou mesmo tomar conhecimento do sistema de escape de possuíam.
Uma das referências encontradas no Oriente, considerada das mais célebres citações, é a descrição que o medico Ridwân deixou e que remota à volta do ano 1200 de nossa era. Descreveu ele o relógio da mesquita de Damasco, mencionando as diversas engrenagens e pesos, assim como a disposição dessas peças no mecanismo. Esse relógio foi atribuído ao pai de Ridwân, que o teria construído no reinado do sultão Salah-ed-Din (1138-1193).
Pela descrição mencionada, assim como por outros indícios, é provável que os relógios árabes, movidos a pesos, tenham sido os precursores dos relógios mecânicos, situando-se um período de transição entre as clepsidras de rodas dentadas e os antigos relógios de torre, possuindo todas as características inerentes a estes, como o conjunto de engrenagens, os pesos motores e, como é obvio, um dispositivo de escape como elemento regulador, embora, evidentemente, de forma e execução bastante rudimentares.
Alias, encontra-se em alguns textos europeus a menção de que o sultão Salah-ed-Din enviou ao seu amigo imperador Frederico II um presente originalíssimo para a época: um engenhoso relógio de pesos. O valor desse relógio seria da ordem de cinco mil ducados, quantia bastante apreciável naquela época.

TRANSIÇÃO: CLEPSIDRA-RELÓGIO MECÂNICO

Depois de uma prolongada apreciação histórica, focalizando os principais relógios que o homem produziu e usou desde a mais remota antiguidade, entraremos agora no estudo dos primeiros relógios mecânicos.
A invenção das rodas dentadas, elementos básicos do relógio mecânico, foi atribuída inicialmente a Aristóteles e, mais tarde, a Arquimedes, entre os nos 287 e 212, antes de nossa era. No entanto, a construção de um medidor do tempo, exclusivamente mecânico, retardou-se mais de 1500 anos. Por outro lado, parece ter decorrido apenas pouco mais de cem anos, após a descoberta das engrenagens, para o advento das clepsidras de rodas dentadas, ponto em evidencia o grau de desenvolvimento, relativamente elevado, em que a ciência e a técnica se encontram nessa longínqua época, próximo ao alvorecer da nossa era.
Em relógios hidráulicos, foi citado com detalhes essas famosas clepsidras, criadas por Ktesíbio, célebre mecânico de Alexandria, nas quais importantes elementos mecânicos foram usados, como a engrenagem e a cremalheira. Foram, sem duvida, essas clepsidras de rodas dentadas, trabalhando com os elementos primordiais dos relógios mecânicos, as precursoras destes.
Entre o aparecimento das primeiras clepsidras com engrenagens e os relógios inteiramente mecânicos medeiam nada menos de 14 séculos , período esse bastante longo e que, por si só, revela as dificuldades encontradas pelo homem para que pudesse, partindo dos relógios de Ktsíbio, afastar-se do principio hidráulico e entrar no movimento puramente mcanico.
Entrementes, chegaram a ser construídas clepsidras e autômatos de grande complexidade, como o relógio de água que Carlos Magno (742-814) recebeu de presente do califa Harum-Al-Raschid, alem de outros do mesmo gênero. Todavia, todos se baseavam nos princípios determinados por Ktesíbio, sendo portanto, em essência, nada mais que uma repetição dos relógios desse extraordinário mecânico de Alexandria, que, a par da clepsidra de rodas, criou também outros mecanismos e ferramentas, ainda se positivou como um dos precursores do órgão, esse instrumento musical tão comumente encontrado nas igrejas.
É evidente que devem ter sido feito tentativas para a criação de relógios mecânicos nesses 14 séculos que separam Ktesíbio dos primeiros relógios desse gênero que apareceram. Pode-se mesmo deduzir que o passo inicial terá sido a aplicação de um peso motor em um cilindro, acoplado a um simples conjunto de engrenagens; porem, como é obvio, as engrenagens movidas pelo efeito do peso giravam rápido, desenvolvendo uma aceleração de velocidade e em pouco tempo o peso descia ao seu ponto final, sem permitir uma regularidade na rotação das engrenagens.
Enquanto nas clepsidras mecânicas a água escoando atuava como elemento regulador, o mesmo não se poderia obter de um peso que, pela ação da gravidade, apenas tinha possibilidade de atuar sobre o conjunto de engrenagens, como elemento motor, havendo, portanto necessidade de um outro dispositivo – o regulador – que se incumbira de moderar a velocidade das engrenagens, mantendo-as dentro de limites previamente calculados, tornando possível o uso do conjunto como marcador de tempo.
Havia pois que procurar criar o escape, esse órgão imprescindível ao relógios mecânicos, sem o qual o mecanismo de engrenagens movido a peso de nada valia.
Parece que essa necessidade se fez sentir pelo menos entre os chineses, árabes e europeus, certamente em épocas diferentes, no entanto não tão distanciadas entre si, uma vez que as referencias que aparecem na historia se encontram todas dentro de nossa era.
Em face dos elementos existentes não é possível afirmar-se com convicção de que povo terá partido a idéia de criação do primeiro escape mecânico, se é que não partiu de mais de um isolante, essa iniciativa.
Seja como for, devido à falta de registros exatos e imperecíveis na historia, parece que o tempo se encarregou de apagar através dos séculos os indícios que pudessem levar a essa conclusão.

PRIMEIROS VULTOS EUROPEUS

A tão decantada engenhosidade do homem foi, sem duvida, posta à prova quando concluiu que, para construir um relógio essencialmente mecânico, precisava contar com um elemento regulável que contivesse o andamento das suas engrenagens tão vagarosa e girar uma última roda do trem de engrenagens tão vagarosa e regularmente, que propiciasse a contagem de um razoável espaço de tempo, com segurança de funcionamento.
Na verdade era fácil regular o escape da água de uma clepsidra, era simples, era intuitivo: bastava aumentar ou diminuir o orifício onde escoava o liquido. Mas ao tentar criar um escape mecânico, o homem certamente pôde sentir a magnitude de um problema aparentemente tão simples e que, no entanto, foi uma incógnita durante séculos.
Confrontando-se as datas que aparecem na cronologia do relógio, não é difícil constatar-se as imensas dificuldades com que o homem se deparou. Quantos cérebros dos mais privilegiados tudo fizeram para resolver esse problema? Desconhecemos. Porém de uma coisa estamos certos: a medição do tempo preocupou com maiores sábios da antiguidade. Pelo numero de séculos transcorridos entre o advento das engrenagens e os primeiros relógios mecânicos, é fácil concluir-se o quanto foi penoso, o quanto foi árduo o trabalho de pesquisas, sem resultados durante muitos séculos.
Quando sem conseguiu criar o órgão que regulou, determinando com precisão – embora relativa no inicio – o correr das rosas de um trem de engrenagens já eram conhecidas de longa data, assim como o movimento de um conjunto de engrenagens por meio de um peso. Sua descoberta, certamente, não se deu de uma só vez, sendo admissível e lógica uma seqüência de trabalhos visando esse fim, que terá se estendido por séculos, com a contribuição de diversos pesquisadores, deixando cada um algo de seus esforços em prol da solução do problema.
A invenção do escape era, portanto o detalhe que faltava como impulso para o desenvolvimento desses relógios. Pode-se imaginar o trabalho dispendido pelo seu descobridor para chegar a essa solução e ainda o júbilo de que foi possuído. Abria ele uma nova era na medição do tempo. Quem terá tido esse privilegio? Alguns historiadores atribuem a descoberta a Pacífico, arcediácono de Verona, falecido em 849; outros a Gerbert, monge da Abadia de S. Geraldo de Aurillac, depois de superior do Convento de Boblio, na Itália, e que no ano 999 foi coroado Papa sob o nome de Silvestre II. É fora de duvida que Gelberte foi um grande sábio que se dedicou à astronomia e como decorrência procurou uma forma racional de medir as horas, sem depender de uma continua observação dos astros. Sobre ele escreveu Berthoud: “Era um sábio muito distinguido que durante sua estadia na Espanha tomou conhecimentos astronômicos dos mouros. Acredita-se que é a ele que devemos a introdução dos números arábicos”. Ainda sobre essa importante figura da historia do relógio disse Kindler: “Segundo certos autores, Gelbert deve ter construído em Magdebourg, em 996, um relógio admirável que anda por meio de pesos e rodas; mas não existe prova plausível desta afirmação e outros historiadores pretendem que somente se tratou de um tubo de visão, servindo para constatar as horas conforme a posição das estrelas”.
No entanto, apesar do grande valor de Pacífico e de Gerbert, quanto ao seu trabalho em prol da medição do tempo, o mais certo é ter se perdido na poeira dos séculos o nome do espírito inventivo a quem se deve a descoberta de importante órgão do mecanismo dos relógios. Como a afirmar esta ultima suposição, o Padre Beneditino Dom Jacques Allexandre diz em sua obra “Tratado Geral dos Relógios”, impressa em Paris em 1734: “ No fim do século X foram inventados os relógios movidos a rodas, mas não se sabe que foi o inventor”.
Dentre os desenhos deixados por Villard, que foi arquiteto no século XVIII, existe um, datado de 1251, representando um dispositivo que, segundo o autor, se tratava de uma experiência precursora de um escapamento de relógio e a seu ver contribuiu para o desenvolvimento dos relógios mecânicos movidos a peso. Esse desenho mostra um dispositivo excessivamente primário, mesmo rudimentar, o que é de certo modo estranhável, visto até essa época já terem sido construídos mecanismos muito engenhosos, como por exemplo o das complicadas clepsidras de rodas dentadas.

O FOLIOT: DEFICIÊNCIAS – DESCRIÇAO

Como não poderia deixar de ser, e o homem tem demonstrado sempre e sempre em toda sua historia, mercê de sua inquebrantável determinação acaba por vencer mais uma importante etapa, quando descobre um órgão mecânico que, a exemplo do orifício na clepsidra que contém e regula o correr da água, contém e regula o correr das engrenagens. Não obstante sua similitude de funções, embora em situações totalmente diferentes, produzindo resultados até certo ponto semelhantes, são totalmente diversos em sua concepção; não há na verdade o menor resquício de comparação entre o singelo e intuitivo escape da clepsidra e o primeiro, engenhoso e sutil escape mecânico que conhecemos, denominado foliot. O nome do inventor do foliot, esse tão genial dispositivo de escape, infelizmente é ignorado. Como em tantas outras descobertas, nessa também não há indicação alguma que possa levar com segurança ao mecânico, que, com seu gênio, conseguiu dar regularidade de funcionamento a um conjunto de engrenagens, movido por um peso motor.
Era o foliot um escape rudimentar, que funcionava com pouca precisão, mas... funcionava. E assim o homem dá um grande passo que lhe permite alcançar uma etapa importante, qual seja a de começar uma etapa importante, qual seja a de começar a construir relógios mecânicos, precursores dos relógios de igreja, movidos a pesos, que conhecemos. Alem disso foi o foliot o predecessor do balanço, que hoje esta presente em todos os relógios de corda de pulso.
Esse primeiro órgão, que realmente preencheu os requisitos necessários como escapamento, destinado a regular a marcha dos relógios mecânicos e que não obstante sua relativa precisão demonstra bem o talento e elevada habilidade de seu criador, foi usado durante séculos, não somente em relógios portáteis e alguns de seus detalhes construtivos persistiram ainda após a descoberta do pêndulo.
Consistia o referido dispositivo em um engenhoso e simples conjunto compreendendo: um braço transversal oscilante (denominado “foliot” em francês) que era fixado sobre a extremidade superior de um eixo vertical (“verge”) provido de duas palhetas e quanto em ação descrevia um movimento semi-circular de vai-e-vem. Por sua vez, o eixo a palhetas ra acionado por meio de uma engrenagem de reencontro, em formato de coroa, cujos dentes, tendo a forma de serra, exerciam sobre as palhetas uma pressão dirigida alternativamente nos dois sentidos. O braço oscilante foliot, era provido em suas extremidades, de uma série de pequenos entalhes, nos quais se encaixavam dois pesos relativamente bem distanciados do eixo; a regulagem do relógio era feita pelo maior ou menor afastamento desses pesos nos diversos entalhes, em menor afastamento desses pesos relativamente bem distanciados do eixo; a regulagem do relógio era feita pelo maior ou menor afastamento desses pesos nos diversos entalhes, em relação ao eixo vertical, o que permitia uma regulagem rudimentar da marcha do relógio, propiciando um escape mais lento ou mais rápido da roda coroa. A fim de que o eixo, com as palhetas, portador do braço oscilante e pesos de regulagem, não ficasse diretamente apoiado sobre o pivô inferior, o que roubaria uma boa parte da força do mecanismo era ele pendurado num cordão duplo, que por seu efeito de torção contribuía para o retorno do braço oscilante à sua posição média. Esse escapamento, não obstante o grande mérito de ter permitido a possibilidade de construção de muitos relógios mecânicos, abrindo assim a trilha no sentido certo que levou à produção de exatos marcadores de horas, como hoje conhecemos, apresentava certas deficiências básicas inerentes ao próprio sistema, uma vez que os movimentos circulares do vai-e-vem do foliot estavam sujeitos a variações relativamente elevadas, decorrentes da maior ou menor pressão dos pesos motores, da posição dos pesos reguladores no braço oscilante, do cordel que segurava suspenso esses órgãos, etc. somando-se a tudo isto havia ainda a deficiente execução mecânica dos relógios dessa época, que possuíam, em geral, suas peças com meu acabamento e em alguns casos grosseiramente fabricadas.
Evidentemente, um desses relógios, executado em nossos dias, com o maquinário e materiais disponíveis, funcionaria com mais regularidade, porém de qualquer forma não corresponderia às mais modestas exigências de precisão. Esse foi o principal motivo que levou os sábios da época à conclusão de que o escapamento a braço oscilante foliot deveria dar lugar a outro dispositivo, cujas características de fundo técnico e cientifico pudessem apresentar melhores resultados.
Muito embora o foliot não correspondesse a um padrão de precisão razoável, em face de sua grande sensibilidade a precisão razoável, em face de sua grande sensibilidade a quaisquer variações motrizes, ele esteve presente praticamente em todos os relógios mecânicos, seguramente por mais de três séculos e meio, tendo sido de tal forma aperfeiçoado e miniaturizado nesse espaço de tempo, que seu principio deu ensejo ao aparecimento dos relógios do bolso, sendo para este caso transformado o braço transversal em um aro com raios – o balanço – e o cordão substituído inicialmente por uma cerda de porco e posteriormente por uma espiral metálica.
As palhetas e roda de reencontro ainda subsistiram por muito tempo, mesmo após a aplicação do pendulo em um relógio, realizado por Huygens em 1658.

PRIMORDIAL FINALIDADE

Pelo que se pode depreender das gravuras da época, os primeiros relógios mecânicos que o homem construiu tinham a primordial finalidade de atuar como despertador, tocando em um tímpano ou sino, e sua utilidade parede ter se cingido a determinar horários de despertar ou de obrigações em mosteiros, principalmente durante o período noturno.
Esse ponto de vista é ratificado pelo fato, deveras importante, de os primitivos relógios mecânicos na Europa terem sido construídos por padres que, refugiados no sossego dos claustros, aperfeiçoaram pacientemente os conhecimentos transmitidos pelos árabes ao mundo cristão. Com efeito, por esse tempo, eram praticamente os eclesiásticos os únicos dotados de conhecimentos matemáticos e da ciência necessária para calcular as engrenagens e desenvolver os mecanismos no sentido de aperfeiçoamento da divisão mecânica do tempo.
Esses primeiros relógios mecânicos eram extremamente simples, sendo preciso dar-lhes corda varias vezes por dia; seus mecanismos apresentavam-se bastante toscos, não obstante, esse primitivismo relacionava-se mais aos detalhes de sua construção do que propriamente à sua concepção, o que, enfim, não deixa de ser compreensível, uma vez que o homem não contava ainda com maquinas razoáveis que o auxiliassem, dependendo para a execução das peças, de ferreiros habilidosos que as faziam praticamente à mão.
Havia relógios cujos mostradores indicavam as horas de 1 a 24, – acredita-se terem sido estes os primeiros a surgirem, – outros de 1 a 12 horas e também de 1 a 16 horas. Todos porém, sem exceção, possuíam desde o início de seu aparecimento apenas o ponteiro de horas; somente séculos depois é que o ponteiro de minutos foi aplicado.
É admitido, num sentido geral, que os primeiros relógios mecânicos, além de se destinarem aos mosteiros, também eram usados para indicarem as horas aos guardas das rondas noturnas, nas cidades medievais, que se encarregavam, por meio de um martelo, de bater em um grande sino o numero de pancadas correspondentes às horas que o mostrador do relógio assinale, ou de anunciar as horas, à viva voz, pelas ruas da povoação.
Um desses relógios, bastante conhecido por aparecer em muitos tratados de historia, encontra-se no Museu Nacional Alemão, de Nuremberg. Trata-se de um primitivo relógio construído por volta de 1400, especificamente para uso noturno, todo de ferro, com a altura de 40 centímetros, possuindo um mecanismo despertador que soava a cada hora; seu mostrador de 28 centímetros de diâmetro está dividido em dezesseis horas, sendo que no lugar da cada divisão encontra-se um botão saliente, cuja finalidade era permitir ao vigia noturno, na obscuridade, tateando com os dedos, determinar a posição do ponteiro em relação aos pontos de relevo, a fim de tomar conhecimento da hora que o relógio indicava. O sistema de escape desse relógio é o foliot, oscilando em períodos de cerca de três segundos.

RELÓGIOS E RELOJOEIROS ANTIGOS

Uma das menções européias mais curiosas que se conhece, com referencia a um relógio mecânico, é sem duvida a que se encontra nos três versos do canto XXIV do “Paraíso”, escritos pelo grande poeta florentino Dante Alighieri, acredita-se que por volta dos anos 1315 – 1316:
“E como o mecanismo dos relógios, as rodas giram de tal forma que se as observarmos, a primeira roda nos parecerá imóvel enquanto a ultima parece voar”.
Um dos poucos relógios mecânicos primitivos, que permitiu aos historiadores assegurar sua data certa de construção, foi o que existiu sobre a ponte de São Pedro, em Caen, cidade francesa situada na confluência dos rios Orne e Odon: era um relógio que batia as horas – provavelmente apenas despertador – e continha a seguinte inscrição: “M’a fait Beaumont l’an mil trois cent quatorze”.
Na Inglaterra há citações sobre um relógio que teria sido construído em 1288, instalado em Westminster e que é considerado como o mais antigo relógio mecânico desse país. Esse relógio foi instalado na grande torre de Westminster, que fazia parte do edifício do Parlamento, em Londres, por ordem do rei Eduardo I. Era necessário subir-se aos trezentos e sessenta degraus da torre para chegar-se até ao “Big-Tom” – Grande Tomás, nome que os ingleses deram a esse famoso relógio. O “Big-Tom” funcionou e bateu horas durante cerca de 4 séculos, tendo sido substituído mais tarde pelo “Big-Bem”.
Os historiadores da época mencionam também, como um marcador de tempo invulgar, o relógio construído por volta de 1330 pelo abade Ricardo de Walinfard.
Há diversos relógios mecânicos primitivos, construídos no século XIV, na Península Itálica; em 1328 um em Veneza, em 1334 em Pádua, em 1336 outro em Milão e em 1350 em Pávia.
Duas personalidades históricas importantes na ordem da evolução dos relógios mecânicos são: Santiago de Dondi e João de Dondi, filho do primeiro. Santiago de Dondi, medico e astrônomo de Pádua, inventou, em 1344, um relógio de planisférios, considerado durante muito tempo uma obra-prima e que teve o mérito de atrair a atenção dos sábios da época.
João de Donti, seguindo as pegadas do genitor, construiu em 1350, em Pávia, um relógio ainda mais aperfeiçoado do que o de seu pai; devido a esta sua invenção foi ele cognominado de Horologius, nome que adotou e se perpetuou nos seus descendentes.
Outro famoso relógio é o da Catedral de Estrasburgo, na Alemanha, cujo primeiro mecanismo foi construído em 1352, posteriormente substituído por outro que trabalhou de 1574 a 1789, e atualmente possui um mecanismo que data de 1842. em 1370, Henrique de Vick terminou de construir em Paris um relógio que esse monarca possui; em sua construção Vick trabalhou 8 anos seguidos. Esse relógio foi colocado na torre do palácio real de Paris e nele o famoso mestre relojoeiro aplicou o foliot. O desenho básico desse relógio foi sendo imitado durante dois séculos , quer em tamanhos grandes para edifícios, quer em reduzidas dimensões para uso em casas particulares.
Graças a alguns historiadores da época, e especialmente Pierre Leroy, existe descrição minuciosa desse célebre relógio de deu o nome ao “Quai de l’Horloge”, torre do castelo de Paris. Era um relógio com mecanismo volumoso de ferro forjado, sendo todas as suas peças, inclusive as engrenagens, feitas manualmente, na forja e na bigorna, a fogo e martelo; seu peso total ascendia provavelmente a algumas toneladas, pois somente seus 2 pesos motores tinham 250 quilos cada um, o que, por si só, demonstra a rudez da execução das suas peças. No entanto, é ele considerado uma obra realmente notável e, por suas características, mostra que não foi fruto de uma improvisação, mas sim de um estudo acurado e uma mestria elevada.

RELÓGIO – OBJETO RARO

Diz a historia que dentre as cortes européias, onde ressaltava com mais pujança a admiração pelos relógios, destacava-se a de Borgonha, na qual, um dos grandes afeiçoamentos da arte relojoeira era Felipe o Bom (1396-1467), pai de Carlos o Temerário e este por sua vez, não negando a filiação, também se interessou pelos medidores de tempo, havendo pago a seu medico Henrique Von Zwalis, o valor, bastante elevado, para a época, de 1000 libras, destinado à construção de um relógio que mostrasse o movimento dos planetas, estrelas e signos do zodíaco na escala anual.
Para podermos avaliar o quanto a invenção dos relógios mecânicos trouxe de alteração aos hábitos do homem, é necessário transportarmo-nos à Idade Média e sentirmos a carência de tantas e tantas utilidades que hoje nos são corriqueiras e também o esforço que o homem fez para sair desse circulo de pobreza, que o acompanha há milênios.
Nesse período da evolução da humanidade havia falta de muito e o pouco que se criava ficava bastante longe de satisfazer as necessidades. Estão neste caso, por exemplo, os vidros. As célebres catedrais góticas da Idade Média começavam a ser construídas e o vidro era tão escasso que os obreiros eram obrigados a trabalhar dia e noite para dar conta do mínimo requerido; tanto assim, que muitos castelos não podiam se dar ao luxo de possuir suas janelas com vidraça, pois o pouco vidro fabricado se destinava aos imponentes vitrais com que eram ordenados esses edifícios religiosos da época. Dentro desse âmbito de necessidades surgiu o relógio mecânico que, evidentemente, era das mais raras e preciosas peças, exigindo sua construção uma perícia invulgar, dando margem a que a escassa minoria que se dedicava a tal mister fosse recrutada dentre os cientistas e sábios da época, dando-lhes a oportunidade de perceber altos salários e ver seus nomes exaltados pelos escritores e poetas.
Por curioso ou mesmo inverossímil que possa parecer a alguém, era normal, antes do advento do relógio mecânico, o uso do galo como despertador, até nas cidades, vinha esse costume desde o período da antiguidade greco-romana e continuou durante a Idade Media, avançando mesmo após esta; isto certamente fora dos perímetros urbanos que contas com uma torre de relógios – e estas eram tão raras! O poeta francês, Fascadel, que viveu no século XVI, disse numa de suas obras ser o galo o despertador da época.
Nos campos de batalha a presença do galo como despertador era comum e do seu cantar dependeu algumas vezes o bom e o mau êxito dos exércitos. Já no tempo de Alexandre o Grande, era o canto matinal do galo que servia como despertador para os soldados. Diz-se, também, ter sido o galo que, com seu canto, deu sinal de alarme na batalha de Marignan, isto em 1515.
Retornemos à Idade Média; nesse período foi muito conhecida a figura característica do “Reveilleur”, ou seja, “despertador” em Português, cuja função era percorrer continuadamente as vielas da cidade, anunciando as horas, aos gritos, permitindo aos pacatos cidadãos, recolhidos em suas casas, tomarem conhecimento da marcha do tempo. Como pe obvio essa ocupação terá desaparecido mais rapidamente nos centros populacionais que puderam contar com relógios públicos e certamente persistiu por mais tempo nas cidadelas e pequenas povoações, geralmente circuladas por muralhas protetoras que lhes limitava a periferia.

A INFLUÊNCIA SIMBÓLICA DOS RELÓGIOS

Os relógios mecânicos, desde o seu surgimento até os fins da Idade Media (1300-1450), empolgaram de tal forma o homem, que chegaram a ser considerados como símbolo do equilíbrio, da sabedoria e da virtude e ta grande foi essa influencia que ela repercutiu até muitos séculos após. Assim, uma boa parte dos relógios construídos nesse período, e mesmo posteriormente, apresentavam figuras e desenhos alusivos a essas nobres qualidades que o homem deveria possuir; isto quando não se referiam diretamente à inexorabilidade do escoar do tempo, como é o caso do relógio da catedral de Estrasburgo.
Estrasburgo é uma cidade antiga, de aspecto medieval, e fica situada na Alsácia-Lorena, às margens do rio III, junto à confluência com o Reno. A sua catedral católica, é um soberbo edifício obedecendo ao estilo de arquitetura alemã primitiva. A primeira pedra foi colocada pelo bispo Werner, em 1015, em 1277 o bispo Conrado iniciou a construção da torre, que confiou ao arquiteto Ervino de Steinbach. Nessa catedral nota-se a presença de quase todos os estilos medievais, sendo de destacar os seus notáveis vitrais, o púlpito e o célebre relógio astronômico de Silberman; este relógio adquiriu grande fama face a sua complexidade e detalhes artísticos com figuras moveis. Os quartos de hora são assinalados por figuras diferentes que representam os quatro estágios da vida e que batem o seu quarto de hora correspondente em um sino. O primeiro quarto é assinalado pela figura de um menino que aparece e bate com um raminho no sino; no segundo quarto, ou seja, na meia hora, aparece um jovem caçador que bate com uma flecha; o terceiro quarto é assinalado por um guerreiro que usa a sua espada para bater no sino; finalmente no último quarto de hora correspondente à hora inteira, é um ancião, que emprega sua muleta para dar as pancadas.
A verdade é que, nos primórdios de seu aparecimento, os relógios mecânicos se constituíram motivos de assombro; realmente, o fato de se saber a hora com exatidão provocou uma revolução na vida social porque o cumprimento sos deveres, a regularidade moral e as virtudes começaram a ser ligadas ao engenhoso invento, convertendo-se o relógio em símbolo de virtude.
Nas pinturas e tapeçarias da época, tanto religiosas como profanas, nota-se uma influencia decisiva do relógio na vida dos homens. Os relógios simbólicos marcaram indelevelmente o século XV. A Temperança aparece geralmente representada pela figura de uma mulher que segura em uma das mãos algum objeto simbólico e na outra equilibra um relógio. Havendo também casos em que, em ambas as mãos, a figura segura objetos simbólicos, por exemplo, na mão esquerda um cofre, como a lembrar que deve haver parcimônia nos gastos e, na mão direita, uma taça para simbolizar a virtude que a mulher encarna; o relógio neste caso, aparece colocado sobre sua cabeça como a demonstrar a necessidade do equilíbrio que, como regula a marcha dos relógios, deverá também regular metodicamente a vida mental e física do homem.
Não eram apenas o equilíbrio e método as qualidades simbolizadas pelo relógio, havia uma outra muito importante: a Sabedoria. “O relógio da Sabedoria” está presente em diversos desenhos da época e geralmente era representado por um monumental relógio, no qual viam-se expostas muitas engrenagens e peças, havendo uma gravura célebre, que pertence à Biblioteca Nacional de Paris, em que as próprias ferramentas do construtor acham-se espalhadas pelo chão, próximo ao relógio, e ele ante os assistentes, faz-lhes uma demonstração a sua admiração e respeito pelo magnífico engenho.
Como símbolo da erudição era o relógio mecânico, como que a mais valiosa invenção do homem a demonstrar seu domínio da ciência, permitindo-lhe controlar mecanicamente o passar do tempo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como vimos, grande foi o esforço feito para se fugir aos convencionais relógios de Sol, de água e de areia, em cuja construção, durante séculos , foram somados todos os aperfeiçoamentos técnicos possíveis e aos quais os mais ilustres sábios, em suas respectivas épocas, deram melhor de seu trabalho e de seus estudos. Sem duvida, alcançados os limites máximos de precisão a que poderiam chegar, esses relógios, tendo servido ao progresso da humanidade, estacionara, já não permitindo maior avanço no sentido do aprimoramento na divisão do tempo.
Os sábios, face essa contingência, empenharam-se em encontrar outro caminho, o qual levasse a um marcador de tempo que lhes deixasse margem de pesquisar e de terem a oportunidade de aperfeiçoá-lo continuamente, até ao limite Maximo de sua precisão de marcha – dentro dos padrões de necessidade de suas épocas – e que pudessem chegar a ser tão perfeito que acompanhasse a cíclica marcha dos astros pelos espaços siderais.
A mecânica era olhada como uma esperança, quase uma certeza, para a solução de muitos problemas que dificultavam o progresso; a engrenagem, já conhecida desde quase 2 séculos antes de nossa era, se destaca como elemento centralizador dês atenções do homem para com a mecânica. O trem de engrenagens, por si só já era considerado uma verdadeira maravilha. Com efeito, um conjunto de rodas dentadas, que podia transmitir seus movimentos de umas para as outras, aumentando sua velocidade e diminuindo sua força ou vice-versa, era qualquer coisa de sobrenatural, comparado mesmo à mecânica celeste.
O uso cada vez mais generalizado de armas de guerra, construídas de ferro, à mão, no fogo e na bigorna, vulgariza o uso desse metal e cria artesãos que dominam as formas com sua experiência, sua forja e seu martelo. É uma evolução natural e na Idade Media a figura do ferreiro se projeta na vida das comunidades, sendo ele um profissional respeitado e altamente considerado. Os sábios da época aproveitam-se desses artífices, cuja principal ocupação é produzir armas, os conduzem à construção de suas maquinas e as engrenagens são forjadas por mãos habilidosas.
O aparecimento do primeiro relógio mecânico, por mais precário e mais rudimentar que tenha sido, permitiu aos estudiosos da divisão mecânica do tempo vislumbrar em profundidade suas extraordinárias possibilidades, embora remotas. Era qualquer coisa que tinha vida pelo girar contínuo de suas engrenagens, acionadas pela ação de um peso, era um relógio que não dependia da luz do Sol, ausente grande parte do tempo e quando presente apenas nos locais ao ar livre, ou do pingar contínuo da água, de ação relativa e com aparelhagem descômoda, ou ainda do escoar da areia, irregular e tão somente servindo para a contagem de períodos curtos. Não havia duvida, naquela maquina que movia estava, na opinião de muitos sábios, a gênese de marcador de tempo ideal.
No inicio, peças de grandes dimensões, descomunais mesmo, rudemente trabalhadas, formando conjuntos cujo peso ascendia a algumas toneladas, constituíram os primeiros relógios mecânicos. No entanto, a exigência dos precursores da relojoaria moderna, impondo aos artesãos a manufatura de peças mais delicadas, obrigou estes a se aparelharem e aperfeiçoar seus métodos de trabalho que foram sendo transmitidos de geração em geração.
A forjaria vai aos poucos se mecanizando; a forja e a bigorna, cada vez menos usadas, passam a representar um papel de menor importância na produção de peças para os relógios; paulatinamente, a forja foi tendo sua atuação diminuída, até sua total extinção, pelo domínio completo das maquinas e ferramentas que passaram a auxiliar o artesão, já não mais ferreiro, mas sim mecânico. Como tal, em muitos casos, o mecânico hábil artífice, aprofunda-se na construção dos marcadores de tempo, transmitido aos pósteros seus conhecimentos e seus métodos de trabalho, que aperfeiçoados permitiram a criação de comunidades dedicadas exclusivamente à fabricação de relógios e normalmente dirigidas por expoentes da ciência e da técnica na medição do tempo.
Há uma correlação de esforços de fundo técnico e cientifico, para a evolução do relógio mecânico: os cientistas, de um lado, descobrindo novas leis aplicáveis a esses marcadores de tempo, e do outro lado, os artífices melhorando a parte produtiva de suas peças.
Assim, a fabricação de relógios foi evoluindo, cada dia mais mecanizada e cada vez menos dependente do valor artesanal do homem, até nossos dias, em que a alta produção em serie determina a cada elemento apenas uma pequeníssima parcela de trabalho, em relação ao todo, como se, por ironia, fosse ele também apenas uma pequenina peça de um relógio, por mais importante ou insignificante que pareça.
Os relógios mecânicos, que eram inicialmente produzidos sem a preocupação de prazo, às unidades, passam através dos séculos, em uma ascensão geométrica, a ser fabricados às dezenas, depois às centenas e atualmente, em um só dia de trabalho, há fabricas que podem produzir muitos milhares deles.
Dessa forma evoluiu a produção desses utilíssimos marcadores de tempo que se vulgarizaram a tal ponto de se tornar raro, em nossos dias, o individuo que não possua o seu próprio relógio.